Segunda-feira, Setembro 08, 2008

Meus poetas...

gente que parte sem nunca ir embora


Peu Xavier
*
Poesia estampada nos olhos.

ou são os meus?

*passou dois anos sentado atrás de mim numa sala de aula, abrindo a boca esporadicamente, me fazendo rir invariavelmente. Amigo inesquecível. Fotógrafo querido. Pessoa que não passa.


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A tempestade que chega é da cor dos seus olhos...

- Oi.
- Nossa...saudade enorme!
- Nem me fala...achei que não fosse mais te achar.
- Eu também, mas isso não acontece assim.
- Não?
- Só se quiser. Quer?
- Nunca!
- Nunca...
- To aflita.
- Aflita como?
- Não sei, frio na barriga, parece que tem alguma coisa importante que eu não sei o que é.
- Sou eu.
- Hahahah!
- Frio na barriga tipo paixão?
- Não...paixão a gente sabe.

- Você se apaixonaria por mim?
- Um milhão de vezes, vezes mil.
- Mentira.
- Juro. Se desse pra escolher...
- Tipo prateleira de apaixonáveis no supermercado?
- Ahaha! Acho que na farmácia. Paixão ta mais pra remédio.
- Remédio amargo... a gente some anos da vida do outro. Ia doer mais do que curar.
- Eu sei, mas toda volta seria linda.
- Tá lindo agora.
- É.

- Faz um favor?
- Faço. O que?
- Se apaixona por mim? Agora?
- Não precisa.
- Precisa sim.
- Não...de um jeito eu sempre fui meio apaixonada por você.
- Foi nada, nunca me ligou e a única vez que disse que ia me encontrar, me deu um mega bolo.
- Ai, verdade...então acho que você nunca reparou.
- No que?
- Na paixão.
- Na sua? Claro que não, nunca existiu.
- Cego.

- Me diz quando.
- Quando o que?
- Quando você mostrou alguma faísca minúscula dessa paixão mocada?
- Eu não mostrei muito...eu só quase morria, só de olhar você.
- Quando?
- Quando não: quanto! Muito! O tempo todo eu te olhava pensando: "Ai ai...not fair..."
- Mentira, eu que olhava.
- Olhava nada.
- Aquele cabelão...
- Que que tem o cabelão?
- Nossa...um dia eu te mostro.
- Mostra?
- Mostro.
- Promete?
- ...
- Ok sorry.
- Não! eu só fiquei pensando...ia ser genial se você soubesse tudo o que eu pensei...e se me pegasse mesmo da prateleira da farmácia.
- Hmm...
- Sempre quis.
- Ai, não mente!!
- To falando, sempre quis.
- ...
- Me passei?
- Não.
- O que que é o silêncio então?
- Sei lá...passou tanto tempo...
- Passou. Passado...eu to aqui agora.

...


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Quarta-feira, Julho 30, 2008

Coisas da Vida #7

Lembrança

Eu encontrei a carta que ela escreveu e fiquei triste de dor ao me colocar em seu lugar e entender o vazio enorme que vem da presença dele, tão forte e, ainda assim, inexistente.

"Foi lindo imaginar o dia que você entrou no meu carro e fomos para aquele lago, onde pela primeira vez consegui olhar nos seus olhos e manter os meus ali até me enxergar dentro deles. Ainda posso sentir o resto do vinho no gosto da sua boca. Foi lindo dormir com você ao meu lado, sentir suas mãos, saber de manhã que o seu beijo me acordaria e depois de novo, e de novo, para me mostrar que estou viva. Ainda sinto o frio do lago subindo pelas minhas pernas e o toque do cobertor aquecendo os ombros, enquanto olhávamos as estrelas se despedirem da noite. Ainda tenho seus cabelos entre os dedos, o seu cheiro na minha pele, o calor do seu peito no meu rosto.
E depois, depois de anos, ao ver você de novo, seu perfume, seus olhos, seu jeito incrível, seus gestos, tudo...cada movimento seu me fez sorrir por dentro: as pernas dobradas, o pé no banco do carro, a blusa tirada pela cabeça despenteando o cabelo, o sorriso, os braços, a pele, as mãos...Ah! as suas mãos...e os olhos negros que eu amo...
os olhos negros que eu amo...
os olhos negros que eu amo e não sei encarar.
Mas foi lindo imaginar que eu entraria no seu carro e olharia dentro deles outra vez até me enxergar ali, e você me beijaria. O seu perfume colando outra vez nas minhas mãos...o seu sorriso falando baixo, quase dentro da minha boca, e o seu gosto em mim mais uma vez. A conversa deliciosa, a sua voz, o seu sotaque forte, o lençol bem passado com cheiro de ferro quente, sua pele quente, sua saliva quente, seu suor quente, seu calor...e eu. Nossas pernas se confundindo de novo, o ar da sua boca em meus ouvidos, sua boca no meu corpo, o seu corpo em mim... E agora, depois de tantos anos, eu não sei mais o que é verdade e o que sonhei. Eu tenho seu cheiro aqui, eu sei, eu sinto! Eu sinto o seu gosto, sim! Eu vejo seus olhos que eu amo e eles são negros, como é negro o vazio da incerteza. Eu não quero saber. Não quero que me contem. Me dá sua mão...me deixa ouvir a sua voz...posso deitar no seu peito?...canta de novo pra mim?...me diz que é tudo verdade. Não quero saber que cada segundo das minhas lembranças é só um fragmento do meu delírio.
Traz os seus olhos pra mim..."



Bom dia.

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