Terça-feira, Fevereiro 10, 2009

** momento I - setembro/1989

(parte integrante de auto-exílio)


Como é que faz
para omitir uma explosão
de todo seu ouvinte,
todo transeunte?

Como é que faz
para esconder um céu brilhante
de todo pássaro,
seu habitante?

Como é que faz
para reduzir
"Este Amor"?
Apagar
"Este Amor"?
Esquecer
"Este Amor"?

Como é que faz
para não tê-lo vivido?
não tê-lo bebido aos tragos?
não tê-lo todo nas veias,
nos tecidos?

Como é que faz,
me diz?
Para falsear este tudo,
este tanto,
e guardá-lo todo
- este todo inteiro -
em algum canto?




auto-exílio é uma série de textos e poemas escritos à máquina, encontrados perdidos numa pasta velha no sótão da minha casa. são fragmentos de da vida que eu levei de 1981 a 1989. de tempos em tempos, ou sempre que eu não tiver o que dizer, vou publicar um deles.

**momento I é o primeiro de três poemas escritos para a mesma pessoa, que fez parte da minha infância e reapareceu vinte e dois anos mais tarde, depois foi embora...do mundo.
não pergunte! eu tenho amnésia.

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Quarta-feira, Setembro 24, 2008

Fortaleza


Eu reparei que aos 42 anos comecei a construir uma gaiola. Aos poucos fui pintando as grades da cor do céu que me cerca, fui acrescentando um pouco de conforto, boa comida, água fresca, tentando fingir que eu nada construía, e de pedra em pedra, de barra em barra, construí uma fortaleza ao meu redor. Uma fortaleza de paredes sólidas para me proteger.

Nos últimos cinco anos, acho que vivi sim trancada dentro deste forte, tentando me poupar - não me privar - de ver que ali fora alguns maus espíritos transitam para lá e para cá, algumas coisas são feias, algumas pessoas são más. Acho que é isso que meu marido quer dizer quando repete que eu vivo num mundinho cor-de-rosa (deus conserve!). Claro que é.
Pois meu mundinho cor-de-rosa existe sim. Só que deixei janelas abertas nas paredes para que minha voz fosse ouvida.
E foi assim, escrevendo o que eu penso e jogando pelas minhas janelas, que vivi esses anos últimos...como a bruxa do castelo, a fada da gruta, ou a princesa da torre; depende do dia. Foi só quando cheguei aqui, quando terminei de levantar as paredes, que eu consegui gritar mais alto e ser ouvida. Foi só aqui que eu descobri quem eu sou e para quê eu sirvo. Daqui de dentro fiz amigos. "Hello stranger..." isso mesmo, estranhos vindos de lugar nenhum, vindos de todo lugar, vindos do céu que me cerca, e eu posso chamá-los de amigos. Foi daqui que eu pude buscar os amigos deixados para trás, resgatar pessoas que eu sempre adorei, me aproximar delas como a vida lá fora jamais permitiu.
Aí estes amigos estranhos, essas pessoas distantes e ainda tão próximas, falam de luz, de ser imprescindível, de ser única, vêm buscar nas minhas palavras o que às vezes falta às delas...e eu vejo que só depois de aprisionada eu fui realmente livre.

Hoje fazem 47 anos que eu comecei uma busca até então sem fim. Achei.

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Quarta-feira, Agosto 06, 2008

Corta pra lareira

Escrevendo o meu livro aquele que parece que eu nunca vou realmente escrever, eu descobri que tenho um bloqueio gravíssimo: eu não sei falar de sexo. Não...calma...eu sei FALAR de sexo, mas não sei escrever cenas de sexo.
Sabe aqueles filmes dos anos 50 que mostravam o casal, o beijo, e cortava para lareira, para o copo, para o cigarro queimando no cinzeiro? Então...é isso que eu faço. Eu levo o casal até a cama...e corto para a lareira! Hello?! Todo mundo sabe o que eles vão fazer depois que ele tirou a roupa dela!

Certo...seria perfeito se isso não estivesse me incomodando brutalmente.
Aí ontem à noite resolvi escrever um conto erótico. Ha! eu sou péssima! Nossa Senhora da Psicoterapia me salve! Fala pinto, penis ou bimbim? Eu suei frio para escrever. Ai gente...comofas? Por que eu vejo a cena e não descrevo assim...direito? No comprendo.

Desisti. Quase. Vou fazer mais uns "exercícios", e se não rolar eu vou cortar pra lareira!


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Segunda-feira, Agosto 04, 2008

Post my Secrets?


Como todos os domingos, acordei, peguei uma mega-caneca de café e vim para o computador entrar no Post Secret - tarefa número 1 de domingo para xeretas em geral que gostam de saber o que passa pela cabeça alheia.
Sou uma fã ardorosa do Frank Warren, - o maluco diabólico que criou o PostSecret.com - e mudou a maneira das pessoas desabafarem sobre coisas que não podem contar para ninguém (a mãe dele diz que o que ele faz é diabólico). Tenho os três livros que ele lançou com os segredos alheios, entro no site todo domingo, e agora que a coisa não para de crescer, confiro o site alemão, o francês, o em espanhol, o Facebook e o blog no Myspace. Toda vez que faço isso, fico pensando se eu teria paciência de fazer um cartão postal manualmente, endereçar ao PostSecret e ir até o correio enviar. Depois disso penso o que eu diria ao Frank Warren e ao mundo se tivesse paciência para tanto. Pensei um segredo..."hmm, esse eu já contei pra um monte de gente!", pensei outro..."Hm...já contei esse também!"
Gente, entrei em crise! Será que eu sou uma pessoa sem segredos? Um livro aberto? Uma porta de banheiro público? Um outdoor ambulante? Deixa eu ver...olhando aqui pra minha lista do MSN, vejo que fulano não sabe o que eu contei pro ciclano, aquela outra nem sonha o que a lá de baixo sabe...mas cada um desses nomezinhos sabe algum segredo meu.
- "Hey! Será que você manda pro postsecret pra mim? É porque eu não lembro mais qual segredo te contei."
Que complicado...Fiz as contas, voltei uns anos, aí...lembrei que eu escrevo. Eu escrevo em meu nome, no nome dela, dele, da outra, em inglês, eu fotografo, eu sonho, eu misturo tudo, eu rio de mim mesma, eu digo tudo o que sinto, eu conto histórias, histórias, histórias...como eu poderia guardar um segredo?
Como eu poderia guardar um segredo se eu tenho todas as ferramentas para exorcisar os meus demônios todo o tempo, e ainda rir da cara deles? Que tipo de pessoa eu teria que ser para cozinhar histórias dentro de mim por tempo suficiente para que se tornassem segredos pesados, que só um terapeuta ou o PostSecret fossem capazes de me fazer cuspir? Eu lá tenho caráter pra isso? É...porque é preciso ser perseverante para guardar amarguras, rancores, tristezas, traumas...eu não sou capaz de colecionar nada, muito menos amarguras. É preciso ser muito mais "gente" do que eu para isso. Eu daria uma péssima suicida inclusive, praticamente um vexame! E para postar segredos eu teria que inventar dramas...ai que chato.
Frustrei. Não tenho nada pra mandar, e se mandasse, com certeza receberia algumas mensagens dizendo: "Nossa...vi um segredo seu no PostSecret."
Que lástima!



Se você é mais gente do que eu, este é o endereço:

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Quinta-feira, Julho 10, 2008

Dear Therapist,


Depois do post aí embaixo eu achei injusto dizer que você leria os textos balançando a cabecinha e fazendo tsc tsc. Acho que seria justo economizar o seu tempo e dar de uma vez a lista das conclusões que você vai tirar ao adentrar as portas da minha intimidade pública. Assim você não precisa ler os 237 textos postados aqui. Veja que bacana que eu sou. Tentemos uma análise por post.
Vamos à lista:

1. Um Tango para George - mini-novela em 9 capítulos e meio:
Você vai dizer que eu projetei uma história que eu gostaria que acontecesse comigo, porque falta algo na minha vida, blablabla. Juro que eu nunca pensei em ficar com o George Clooney. Sério.

2. Protect me from what I want
Você vai ficar feliz por eu ter consciência da minha esquizofrenia light.

3. A Mão Grande do Amor da Minha Vida
Você vai achar que eu preciso de proteção paterna...que eu me sinto desamparada...mas eu te adianto que se eu "desamparar" o resto da casa cai, minha nega.

4. Daren e Mariana
Vish...no mínimo vai chamar o hospital psiquiátrico. Mas eu quero levar o clubinho junto!

5. Eu que sou chata?
Você não vai dizer nada porque eu aposto que você também manda uns pps. hehehe

6. Medo
Divirta-se com esse. É sério e tem trabalho pra você nele.

7. Se iludir menos?
Você vai dizer que eu vivo à busca de uma outra realidade, como se ela fosse a minha referência de vida, mas não necessariamente a vida que eu quero. E que isso é um leve sintoma de esquizofrenia...não...bipolaridade? Não...talvez só uma infantilidade mesmo, mas vamos falar sobre a sua infância...

8. Insanity
Oh my God, essa vai te arrepiar os pelinhos da orelha! Pobre, pobre, pobre e atrapalhada Mercedes, perdeu a bússola há anos e nem se deu conta. Ou se deu conta mas está achando graça do que pode na verdade ser terrível.

9. Pessimismo
Sim sim, você vai dizer que eu nego o comportamento das mulheres da minha idade porque eu me recuso a envelhecer, amadurecer, enchatecer, etc...Não é verdade. Eu só não sou igual a elas. Period.

10. Vida leva eu...
Talvez você cale como até eu calei agora quando reli este texto.

11. Desabafo de Ella Spotlesmind
Ai ai ai...vai ser um saco ouvir tudo o que você vai ter pra dizer. Vai ser péssimo ouvir o que eu já estou careca de saber. Céus! Eu tenho 47 anos; se eu não me conhecer, quem há de?
Mas hey! Ella não sou eu...Ha!

12. Inexistência
- Mercedes, me conte esta história....
- Nunca! "Não quero falar de você. Não lembro. Não sei quem é."

13. A Outra História
...

14. Coisas da vida 1, 2, 3, 4, 5, 6
...

15. Feijões
"Quem você pensa que é para tornar tudo tão simples?"

Olha, eu tenho certeza que você tem muito mais o que ler.
Não adianta ler os meus textos tentando me analisar. Em cada um deles eu estou inteira. Em cada história, cada frase, cada linha.
Não há como dissecar algo que se apresenta inteiro. Para facilitar o seu trabalho, vou dizer: em duzentos e poucos textos, mais o TPM, o in english e os outros, eu sou eu e sou muitas. Não há Aaron Beck que possa mudar isso. E se ele tentar eu grito!

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