Quarta-feira, Setembro 24, 2008

Fortaleza


Eu reparei que aos 42 anos comecei a construir uma gaiola. Aos poucos fui pintando as grades da cor do céu que me cerca, fui acrescentando um pouco de conforto, boa comida, água fresca, tentando fingir que eu nada construía, e de pedra em pedra, de barra em barra, construí uma fortaleza ao meu redor. Uma fortaleza de paredes sólidas para me proteger.

Nos últimos cinco anos, acho que vivi sim trancada dentro deste forte, tentando me poupar - não me privar - de ver que ali fora alguns maus espíritos transitam para lá e para cá, algumas coisas são feias, algumas pessoas são más. Acho que é isso que meu marido quer dizer quando repete que eu vivo num mundinho cor-de-rosa (deus conserve!). Claro que é.
Pois meu mundinho cor-de-rosa existe sim. Só que deixei janelas abertas nas paredes para que minha voz fosse ouvida.
E foi assim, escrevendo o que eu penso e jogando pelas minhas janelas, que vivi esses anos últimos...como a bruxa do castelo, a fada da gruta, ou a princesa da torre; depende do dia. Foi só quando cheguei aqui, quando terminei de levantar as paredes, que eu consegui gritar mais alto e ser ouvida. Foi só aqui que eu descobri quem eu sou e para quê eu sirvo. Daqui de dentro fiz amigos. "Hello stranger..." isso mesmo, estranhos vindos de lugar nenhum, vindos de todo lugar, vindos do céu que me cerca, e eu posso chamá-los de amigos. Foi daqui que eu pude buscar os amigos deixados para trás, resgatar pessoas que eu sempre adorei, me aproximar delas como a vida lá fora jamais permitiu.
Aí estes amigos estranhos, essas pessoas distantes e ainda tão próximas, falam de luz, de ser imprescindível, de ser única, vêm buscar nas minhas palavras o que às vezes falta às delas...e eu vejo que só depois de aprisionada eu fui realmente livre.

Hoje fazem 47 anos que eu comecei uma busca até então sem fim. Achei.

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Segunda-feira, Setembro 08, 2008

Sobre Ex-Provolones Gigantes


22/11/2007 - Mercedes Gameiro toma uma atitude quanto ao seu tamanho incrivelmente avantajado, após experimentar 650 vestidos de avó de noiva, na tentativa de parecer ao menos meio decente numa cerimônica de casamento.

22/01/2008 - Mercedes Gameiro, com 5 kilos a menos, tá crente que tá abafando.

22/05/2008 - Mercedes Gameiro quase pede arrego quando seu peso resolve empacar num número impronunciável dizendo que "não baixa! não baixa! não baixa!"

28/08/2008 - Mercedes Gameiro escuta pela primeira vez o que ela já esperava: "agora chega,! Você era um mulherão e está ficando pequenininha!" Ha! chega nada!

08/09/2008 - Mercedes Gameiro mal se reconhece quando passa pelo espelho e morre de rir toda vez que vê o tamanho de sua própria cintura. Se diverte vestindo roupas que sobram e caem, e anda por aí toda se achando.

A saga do provolone ainda está longe de terminar, mas já é incrivelmente prazeiroso dar de cara comigo mesma, tão parecida comigo mesma antes de não ser mais eu mesma. Entendeu? Ha!


** foto meramente ilustrativa pra dizer: saca a finura do braço da pessoa....eeeeeee!

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Quinta-feira, Julho 31, 2008

100000

CEM MIL HITS

eu disse: 100.000 vezes!


Pessoas entraram 100.000 vezes neste blog!
É pra ficar feliz, ou não?

Bom dia!

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Terça-feira, Julho 22, 2008

Sobre amor, beleza e outras manias...


Eu lembro de ser bem pequena, de saia curta, sapato de verniz branco, meia três quartos, e sonhar com o dia que eu seria Miss Brasil. Lembro de querer ser bonita muito mais que todas as outras coisas que as pessoas queriam. Lembro que nunca me vi como os outros me vêm. Nunca tão brilhante. Nunca tão bonita.
Eu não quis ser nada importante, na verdade quis muito poucas coisas e ser alguma coisa me assustava como boa libriana: "hey! mas eu vou ter que escolher?" Como sempre fui incapaz disso, a vida foi me levando...eu já falei sobre isso por aqui e não quero me repetir...só quero chegar ao ponto: eu não quis nada, eu tive tudo, mas a desgraça da beleza nunca deixou de me assombrar. E o tempo passa... e o tempo é cruel - o tempo, a gravidade, a gravidez...
O culto ao intelecto do meu tempo, fez com que achássemos que o corpo era só um meio de transporte para o cérebro, nos matando mais cedo, nos trazendo marcas precoces, nos detonando aos poucos (e aos montes). Fumamos tudo e bebemos todas para conseguir filosofar mais claramente, ter mais talento, ser mais interessantes. Alguns de nós ainda resgataram a saúde a tempo, sem achar feio, sem achar que ficariam mais burros ou menos dignos. Outros não. E aí houve uma inversão tão perigosa quanto a primeira: minha geração cuidou demais do corpo, se plastificou, se encheu de botox, ficou neurótica, e era a academia ou a depressão, o personal ou o sentimento de abandono, a seringa ou o medo de ser mais velho do que todos os seus iguais. Enquanto os sedentários criticavam e viam a diabete e o colesterol chegarem, os novos atletas pareciam se conservar em formol.
A minha geração correu atrás de uma aparência impossível, porque não inventaram nada para trazer de volta a pele dos vinte anos. Preenche-se tudo, mas perde-se a identidade. Troca-se tudo...peito por silicone, ruga por restyline e botox, pernas finas e bundas chatas por próteses, maridos por meninos, esposas por modelos, famílias por aventuras.
E eu tenho medo de descobrir mais tarde que toda uma geração se perdeu ao perder a maturidade, por achar que a adolescência não precisava passar. Medo que todo mundo se olhe no espelho daqui há um tempo e descubra que está disforme, irreconhecível, e...sinto muito...ainda assim, velho!

Já bem tarde na vida, encontrei um homem cinco anos mais novo do que eu. Vampira que sou, guardei ele para mim, garantindo a porção de juventude que podia me faltar um dia. E nós crescemos juntos. Ao lado dele eu virei uma matrona várias vezes. Ao lado dele eu cheguei aos quase 90 quilos. Ao lado dele eu jamais escutei uma crítica referente ao meu corpo ou às marcas do tempo. Se saí correndo para malhar, para fazer regime, para fazer uma lipo, para fazer um laser, foi sem que ele jamais sugerisse nada. Aí...no fim desse meu regime enlouquecido, em que já dei adeus a quase todos os quilos a mais, eu olho para ele e percebo que para ele tanto faz. É a mim que ele ama! Ele não quer saber se eu tenho músculos ou flacidez, se minha pele tem manchas, rugas, celulite...ele quer saber se eu estou feliz. Ele está envelhecendo ao meu lado e a história de vida que temos é muito mais valiosa do que uma injeção de botox que vai durar no máximo quatro meses. Ele sabe que olhar no espelho e gostar de mim mesma me faz feliz, mas isso só serve para ele apoiar as minhas loucuras, e seguir sorrindo, porque para ele, seja velha ajeitadinha ou velha carcomida, o importante é que eu esteja lá.
Um amigo me disse outro dia que as mulheres não têm idéia do quanto são lindas aos cinquenta anos...veja só...quem diria? Quem sabe ele nem é louco. Quem sabe nós, mulheres, é que exigimos demais de nós mesmas. Ao ver aquele cartão no Post Secret desse Domingo, me lembrei do meu amigo, e do meu marido, e do quanto o tempo passou...o quanto ele deixou marcas, e o quanto o tempo faz parte de mim...e eu dele.

Então eu quis ser miss, eu quis ser musa e esse querer não tem, no fim das contas, nada a ver com beleza. Mas eu, boba, não sabia.



Um beijo amigo no seu umbigo.


PostSecret é aqui.

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Terça-feira, Junho 10, 2008

Precisa-se de Borboletas

Oi, Me!
Estou tão triste, e você sabe, sempre que isso acontece eu corro pra você.
Ninguém mandou ter tanto tempo e ombros largos. Eu preciso deitar a cabeça no ombro de alguém, e you are the one.

Então...minha vida está calma. Meu coração está calmo. Meu trabalho está calmo. Até o CD no meu carro é calmo. Tudo estável. Tudo controlável. Amiga, você tem noção? Isso é um inferno!
Eu não aguento mais tanto equilíbrio! Eu quero minhas borboletas de volta, fazendo arruaça dentro do meu estômago. Eu quero, eu preciso, eu tenho que me apaixonar.
Aff, como eu sou débil mental, eu sei. Você deve estar se matando de rir da minha cara. Enquanto o mundo inteiro toma anti-depressivos, calmantes, faz Yoga, meditação, Heik, terapia de chácras, eu sinto falta da minha montanha russa. Me explica como esse povo consegue viver nessa paz? Quem precisa de paz? Eu preciso de paixão!
Paz não é uma coisa divina...paz é o inferno disfarçado...é morna, é fria, é silenciosa, é acomodada. Divina é a paixão que modifica tudo, que bagunça o chão, que faz a gente andar mais longe, dar mais um passo, sentir-se viva. Ai Me...que saco! eu queria ser normal (ou nem).

Bom, sejamos práticas! Você vai perguntar COMO eu não estou apaixonada...cadê aquela homarada que sempre esteve à minha volta? Cadê? Cadê?
Estão todos aí, Me, no mesmo lugar. Mas ai! Cansei!
Tem aquele diretor de arte gatinho, ta logo ali no meus MSN me olhando as we speak, mas ai que preguiça...quanto tempo faz que a gente fica nessa galinhagem de se provocar pela internet? Já não dava para eu ter morrido de paixão por ele? Se não aconteceu até agora, só por um milagre, amiga. Só se a gente saísse da zona de conforto de olhasse um na cara do outro. Aí sim, talvez, não sei.
E tem aquele bem novinho, lembra? Aquele que era lindo de dar dor de estômago? Aquele de faz tempo? Então...ressurgiu das cinzas, agora super decidido a fazer o que não fez quando devia. Hmm...preguiça. Preguiça porque isso exige um tempo de distância segura, mandando fotinho, recadinho, carinhozinho...Papo furadézimo, falta de assunto, porque a inteligência dele só aparece ao vivo sabe? É inteligência visual (hahahha!). Bom...e assim como o outro ali em cima, se não bateu ainda não vai bater. Não, a não ser que ele deixe de ser mané e me sequestre pra ver no que dá. É, porque dessa vez eu não vou mexer um dedo mindinho para ir ao encontro dele. Ele que venha. Ele que mostre que é homem. Ele que tenha coragem, mas ai...preguiça também. Vai ficar nessa lenga lenga até quando?
E tem o outro. O único que pode vir a ser alguma coisa séria. Tá la, em stand by, cuidando da vida dele com um olho no gato e outro em mim, mas não toma uma atitude. Será que o que os três têm em comum é medo de mim? Ou eu to fedendo?
Será que nenhum dos três consegue ler a placa em letras garrafais na minha testa, piscando em vermelho 24 horas por dia: SURPREENDA-ME! ARREBATE-ME! FAÇA ALGO APAIXONANTE!
Ai que preguiça...ai que tédio...ai que ódio! Meee!! Diz pra eles que eu preciso me apaixonar? Diz pra eles que eu não aguento mais homem sem atitude? Diz pra eles? Eu estou tão cansada de ensinar todos os homens que chegam perto de mim como eles deveríam agir..."Vem cá meu filho que eu vou te contar o que uma mulher espera de um homem." Ah...o que aconteceu com eles? Quem estragou os homens? Eu quero as minhas borboletas de volta.

Help!!

Beijos

Ella

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Segunda-feira, Agosto 20, 2007

Coisas da Vida #3

A Noite das Conversas Infinitas

Nossa...há quanto tempo ela não ia àquelas festas?
Eram eventos profissionais tão chatos, mas ela conseguia fezer deles sempre um prazer. Ela sempre navegou entre a vida pessoal e a profissional com tranquilidade, misturando as duas, por isso, qualquer festa chata era uma desculpa para reencontrar amigos e dar risada.

Naquela noite, ela estava um pouco triste. A pessoa que ela queria encontrar já havia avisado que estaria acompanhado, o que a irritou profundamente. Por isso, quase deixou de ir à festa, quase cobriu a cabeça com um cobertor e deixou que Morfeu a guiasse até algum lugar melhor. Que nada! Não era assim tão fácil derrubar essa mulher. Ao contrário, tomou um banho de pétalas de rosas, se perfumou e foi encontrar os amigos e ostentar maldosamente sua beleza em frente ao “bofe acompanhado”. Muito bem.

Atrasada como sempre, fez com que muitos olhos do salão se voltassem em sua direção quando o primeiro amigo a viu. Lógico, era sempre um escândalo! Ela é sempre festejada. Assim, atravessou os 30 metros de salão – da porta ao fundo – sendo abraçada e parando a cada passo para falar com alguém. Até o fundo. Até ele.

Ele. Vamos falar dele: Ele era só uma presença constante em salas de reunião. Nunca houve uma conversa mais pessoal, um assunto mais íntimo, nada. Logicamente ela estava muito longe de estar morta ou cega, então já havia notado o quanto ele era interessante. Mas de qualquer forma, era distante a hipótese, e até mesmo a vontade de chegar mais perto.
Estranho…As vezes parece que alguém sempre esteve lá, mas você meio se negava a ver. Um dia, como se o universo decidisse que basta desta sua cegueira estúpida, sinais divinos de neon escandalosos piscantes apontam para a pessoa dizendo: “olha pra cá, sua monga!”
Que saída? Ela teve que olhar.

Parou e deu um "oi" de quem não vê alguém há muito tempo (claro…nunca olhou direito mesmo) e ali ficou. Foram muitas horas. Incontáveis horas de conversas infindáveis, temperadas por alguns olhares vindos do grande público, que os dois não repararam.
Como o som da festa estava alto, os dois falavam perto do ouvido um do outro. Muito perto. Cada frase parecia mais com um beijo no pesoço do que com uma conversa comum. Mas não era uma conversa com alguma intenção assim... Era uma coisa mais sem querer, que aproximava. Que misturava os perfumes, que permitia que o hálito de um se misturasse à bebida do outro.
Poderia ser algo a mais. Poderia, se ele não fosse tão sério e ela tão preocupada, ou se ela não fosse tão séria e ele tão desligado. Poderia ter continuidade se fosse mais cedo, se fosse em outro lugar, se fossem duas outras pessoas. Para eles não foi nada. Nada além da descoberta de uma pessoa boa para conversar. Mas para os outros, foi muito.
Durante muito tempo ela ouviu falar daquela festa. O “bofe acompanhado” nunca conseguiu engolir o fato dela passar tanto tempo ao lado dele, respirando seu hálito, encostada em seu rosto e - segundo o próprio bofe – fazendo a platéia esperar pelo beijo. As mocinhas de plantão passaram a odiá-la escancaradamente. E foram muitos os telefonemas de amigos perguntando o que tinha acontecido ali e se “deu frutos”.
Deu...deu frutos. Já faz anos que eles são amigos. Este tipo de frutos. Há anos ela deixa escapar nas conversas algumas confidências, e ainda sente que ele invade seu “campo de força” às vezes, derrubando barreiras inimagináveis. Há anos ela finge que não sabe que ele vai invadir de novo o "campo de força" e que não percebe que só ela faz confidências e ele mantem a armadura. E, querendo ou não, toda vez que alguém pergunta quem ela acha interessante, o nome dele é um dos primeiros a querer escapar de sua boca.
Sem o perfume, a bebida e o hálito, os dois se provocam às vezes. De longe... à distância segura. Nunca mais chegaram tão perto. Nunca mais ouviram a voz um do outro próxima a boca ou ouvido. Mas ainda assim, de tempos em tempos, ele invade seu território com perguntas ainda menos discretas do que aquela conversa de rosto colado.
E assim foi... sem mais. Sem nada. Nada demais. Muitos anos passaram. Muito mais anos do que a gente costuma contar. E em todos eles ele esteve presente de uma forma ou de outra.

Não foi uma paixão, não foi uma história emocionante. Não foi algo memorável. Só uma "regular story" que ela conta tranquila.

Mas, mesmo sendo assim tão nada, ela nega, mas lembra perfeitamente do perfume misturado à sua bebida.

* o nariz dele não era tão grande.

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