Domingo, Março 28, 2010

_sobre a fidelidade

É um mega dramalhão. A gente escuta mulheres, desde uma tenra idade, dizendo que jamais perdoariam uma traição. Homens, desde pequenos prometendo sangue em caso de infidelidade.
Aí eu, que sou meio que uma espectadora metida do comportamento alheio, fico aqui remoendo os meus botõezinhos...E se a gente pensasse direito?

Em primeiro lugar, como disse muito bem a Alice Salles, "traição" é a palavra errada para o caso.
Traição é revelar informação secreta. É emboscada desleal. Não deixa de ser um tipo de infidelidade, mas não sei...acho "traição" meio demais. Então vamos aos fatos (ou quase...vamos à minha usual elocubração sobre os fatos).

Para começo de conversa, a fidelidade vai contra todos os princípios da natureza humana. Já falei isso mais vezes do que deveria, mas é o que acredito. Na origem, o homem foi feito para inseminar tantas mulheres quantas passarem na sua frente. A mulher foi feita para encontrar um macho alpha por ano e com ele fazer um filho. Ponto. Depois nasceu a ética e com ela a mentirama.
Falando eticamente, todos nós deveríamos ser monogâmicos e monoteístas e negar toda a diversidade que esse mundo de meu deus oferece. Mas além de prometermos para nós mesmos que somos capazes de afogar a natureza e fingir que ela não existe, ainda transformamos tudo o que é natural em pecado...e fingimos que rezamos para um Deus só. É...um deus só de cada vez, se a gente for contar todos os santos e orixás, e amuletos, e orações alternativas no decorrer da vida.
Pós-ética, o que exatamente faz com que duas pessoas se casem? Amor, certo? Ou pelo menos deveria ser. Então, duas pessoas se amam, mas o câncer dessa sociedade é que as pessoas não se dão conta de que isso - esse amor - e só isso, as une. Nada mais une duas pessoas de verdade. Então, baseado nisso, pode-se dizer que o compromisso entre duas pessoas é afetivo. Sim, não tem papel que segure, não tem filho que segure: casamento é um compromisso AFETIVO e por isso acaba quando acaba o afeto, não interessa se no papel as pessoas continuam casadas ou não.

Então estas pessoas se amam de verdade, mas um dia uma delas conhece outro alguém que a atrai, que a faz sentir como a lá de casa não faz mais, ou não está fazendo neste momento, não por culpa dela, talvez por sua culpa, ou da vida, ou dos dois...mas o fato é que "ai a maldita natureza quando bate, bate forte". E há um deslize. Aí é que entra a minha opinião torta.
O que é infidelidade? Ceder à tentação, ou ser pego? Porque alguém só é oficialmente infiel quando é pego no ato, quando conta tudo, quando a amiga bacana vem e o entrega, ou quando a outra tem um pití e liga para casa do cara para contar tudo para mulher dele. A partir deste momento, o pobre incauto que acabou de cair da árvore e não é capaz de controlar o próprio bim-bim é oficialmente infiel e vai ter que aguentar o ataque da mulher.
A mesma coisa vale no caso inverso.
Então...talvez a traição seja o ato da amiga, ou da outra. Ha!
É...porque você estaria vivendo muito bem, obrigada, se a sua amiga não fosse fofoqueira. Agora você vive com uma pensão miserável, os almoços de domingo ainda são na sua casa, e é você quem fica com as crianças. Então...me conta! Quem traiu quem? A amiga.
Eu francamente não vou querer saber se um dia meu marido me trair. Ele que não venha me contar, porque excesso de sinceridade, meu bem, ou é falta de educação ou crueldade. Deus me livre! Me deixe na ignorância.

Eu não defendo a infidelidade. De jeito nenhum. O que eu defendo é a paz mundial. Pensa: aquelas duas pessoas se amam de verdade. Elas têm filhos. Elas construíram uma história juntos. Quem é você, cara pálida, para entrar no meio disso com uma bomba e espalhar dor por todos os lados? Quer fazer uma boa ação? Chama o traidor para conversar, não o traído. Mas saiba que ele vai falar para sua amiga que você andou dando em cima dele e, babau amizade. Juro.
Então eu acho que o problema da infidelidade não é a infidelidade em si. É a boca grande das pessoas. Juro para você que é isso que eu penso. Errar é humano. Viver em paz é uma raridade. Ser feliz é - às vezes - fechar os olhos e fingir que não viu certas coisas.
Você acha que seu marido anda dando umas voltinhas por aí? Quem sabe você para de ser chata, para de regular mixaria e dá uma canseira nele todos os dias antes de sair para o trabalho...duvido que sobre alguma energia para ele transar com outra. Seria legal também se você parasse de reclamar dos amigos dele, da mãe dele, das manias dele. Tudo isso estava no pacote quando você escolheu esse pobre coitado para viver com você para sempre.
Ah...é a sua mulher que anda estranha? Tá mais magra, toda arrumada, parece mais sexy, sorrindo mais? É...amigo...tem alguém rondando ali e fazendo com que ela se sinta mais bonita. Melhor você começar a fazer isso antes que a vaca vá pro brejo...porque eu vou te contar um segredo: mulher luta contra a tentação com todas as forças, mas se for vencida, ela se joga! Se ela for para cama com outro é porque gosta dele. Se ela gostar muito dele você passa a ser o outro. Então flores hoje? Uma mensaginha de texto mais picante? Namorar, lembra como era? Acho bom.

De qualquer maneira acho isso sim: infiel é quem é pego. Então seguem três conselhos
1. Não traia. Tente melhorar o que você tem em casa, porque dificilmente você vai ter coisa melhor. (Dizem que a vida de solteiro anda complicada hoje em dia)
2. Quer fazer? Faz direito e não conta nem pro espelho.
3. Para de ser idiota que você não quer perder a pessoas que escolheu. (ah quer? Então quem você está enganando?)

Boa semana para você.
:)

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Terça-feira, Fevereiro 09, 2010

_domésticas


Já se foi o tempo que meus assuntos eram nobres.
A vida real me engoliu de um jeito que derrubou meu ar de semi-deusa e eu agora tenho problemas de simples mortais. E meu problema agora chama-se empregada.

Então, estou em busca de uma. Eu já tenho a Ritinha, mas ela está ficando obsoleta. Depois de oito anos, ela virou patrimônio da família e a gente não deixa que ela faça serviços mais pesados, nem nada que possa piorar a situação já lamentável da coluna dela. Ritinha é protegida de todos nós e ponto. Preciso de alguém para fazer o que Ritinha não deve fazer, sem Ritinha perceber...ou seja: Ritinha não é mais exatamente uma empregada. É a tia que cozinha bem e vem aqui todo dia.
Uma vez eu tive a Luzia. Luzia não era uma mulher, era um SER de dois metros por dois e meio. A circunferência do peito dela fazia a fita métrica ficar deprimida. Forte como um leão, carregava qualquer coisa sozinha, arrastava piano, subia escada com qualquer peso, e limpava minha casa como ninguém. Mas eu tive que mandar a Luzia embora para ela não ir para a cadeia, depois de roubar e facilitar o roubo de um incontável número de objetos eletrônicos de fácil comercialização da minha própria casa: máquina fotográfica, PSP, GPS, barbeador, fotômetro....pera! Fotômetro não é fácil de vender! Mas ela levou...o fotômetro e o manual em inglês. O manual em japonês ela deixou pra mim. Além de levar todas essas coisas e deixar as bolsas, cases e embalagens, para que a gente levasse tempo para dar falta, ela também mentia. Mas mentia! Me pediu dinheiro para tirar a mãe do hospital...aos prantos. Emprestei o dinheiro para ela e uma semana depois a mãe liga:
- Como vai? A senhora está melhor?
- melhor do que?
- a senhora não esteve no hospital?
- Deus me livre, minha filha, eu não passo na porta de um hospital há 30 anos, graças a deus.

Eu devo ter a palavra "TROUXA" piscando em neon na testa.
Anyway...juntando Rita e Luzia, pode-se criar uma nova língua. Tanto na fala, quanto na escrita, o talento para criar palavras é incrível.

- Olha um pudinho! (filhote de poodle)
- É um circo viçoso... (acho que dispensa tradução)
- Ele é um INS-PRI-TO de porco! (assim so-le-tra-di-nho)
Na lista de supermercado: manregicão, varge, ribingela (what?), bolbril, verja, indinzinfentanter, sarzinha e sebolim, molo choi (shoyu), papel ingenco (ou ginenco, depende do dia). E meu santo nome, que varia de DôMercê a DonMecedi também dependendo do dia.
Mas a melhor história de todos os tempos veio da Luzia: existe uma doença que dá em recém-nascidos chamada "Mar de Marcioto". Mar vem de Mal. Então é marrr, R com som de "ãr", pra dentro, de caipira.
Então o irmão dela "quase arruinou" quando nasceu, porque pegou mar de marcioto, mas a mãe dela - que deve ser tão macumbeira quanto ela - sabia uma simpatia que é a única coisa que cura mar de marcioto depois que "os médico desengana". Simples: você leva a criancinha para debaixo de uma árvore, tira a roupa dela e coloca ela - a criança - direto na terra...na grama, ou o que for. Aí você pega uma faca (aqui você insere a imagem da minha cara horrorisada ouvindo a história) e corta a criancinha...NÃO! não a criancinha...você vai cortando a terra em volta da criancinha, fazendo o formato dela. Aí, você desenhou a criança na terra, então a doença passa pra criancinha desenhada...e você pode tirar o seu nenem dali que ele ta curado. Isso! Você enganou a doença. Ha!
Eu passei dias tentando achar no google qualquer nome de doença que fosse parecida com Marcioto, sem nenhum sucesso. Mas ela continuou dizendo que eu podia perguntar pra qualquer médico que eles sabem, e sabem que não tem cura.

A vida era mais divertida com a Luzia por perto. Ela fazia macumba pra chover, pra parar de chover, pro Claudio acordar logo que ela tinha que ir embora cedo, pra tudo e pra todos. Pra mim inclusive. Acendeu mais vela na minha casa do que todos os terreiros de Salvador em dia de Nosso Senhor do Bomfim. Mas eu ria mais naquela época.

Pós Luzia, já passaram três por aqui. Nenhuma delas divertida, nenhuma delas trabalhadeira, todas sensíveis demais...e eu preciso de alguém ontem.
Agora me resta entrevistar empregadas e não existe coisa mais bizarra do que uma entrevista de empregada. Segundo o Franc Souza, não precisa pedir currículum nem perguntar qual é o livro de cabeceira. Este seria o questionário padrão:

1) Usa muita Q Boa?
2) Omo ou Minerva?
3) Com pense ou sem pense? (pensa no que faz de almoço?)
4) Sabe diferenciar roupa branca de roupa de cor?
5) Poblema ou pobrema?
6) Sabe fazer bife a milanesa ?
7) Feijão?
8) Arroz soltinho?
9) Arrumar cama?
10) Persegue a novela?
E eu acrescentaria:
11) fuma? (Por que eu fumo...mas odeio cheiro de cigarro, então empregada minha não fuma nem la fora!)

É um saco...
A gente quer saber com que a filha namora, se é de família boa, se tem vícios ou não; analisa a ficha cadastral dos clientes, vive investigando tudo e todos para não dar passos em falso, mas na hora de escolher empregada vale sempre o mesmo critério: ir com a cara. E lá vou eu errar de novo com certeza, porque eu não nasci pra isso...isso tem que ser passageiro. Help!





Letreiro de letras miúdas igual àqueles de final de comercial de varejo de carro que tomam metade da tela:
Amiga, se você/sua mãe/avó/tia/vizinha é/foi/talvez venha a ser empregada doméstica, saiba que este texto não pretende ofender a ninguém, muito menos a você. Se você fez faculdade graças ao esforço da sua mãe/avó/tia/você mesma, acho lindo. Mesmo! Mas por favor não seja chata e não poste comentários me chamando de preconceituosa porque, quer sua mãe/avó/tia/você mesma queira quer não, existem empregadas engraçadas e o fato de você não gostar não muda isso. Se seu problema for com o termo "empregada" sinto comunicar que "empregada" é a nomenclatura usada para denominar "empregada doméstica", o que não acontece com "assistente" ou "secretária" que são funções totalmente distintas, exercidas fora do ambiente doméstico . Eu não gosto e não uso os termos politicamente corretos porque acho todos eles mais preconceituosos do que tudo. Preto não é moreninho nem de cor, até porque é de cor PRETA ou MARRON no mínimo. Gordo não é fisicamente avantajado, é gordo, que vem de gordura, que é o que faz ele ser gordo. Fisicamente avantajado é haltereofilista, esse também fica impotente, mas é outra historinha. Velho é idoso, não é "da melhor idade". Melhor idade é 30, é 25, é 40. 80 é a pior idade. Então vamos combinar que empregada é cargo e não xingamento. E não vem ser chata no meu blog porque, antes que eu me esqueça: 1. talvez o preconceito esteja na SUA cabeça e não na minha 2.esse papo é muito chato fora da novela das oito - que também é chata.




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Segunda-feira, Fevereiro 16, 2009

Alô?

"Eu gostaria de falar com o Sr. Mercedes."
"Pode falar...é ela."
"Ah...nossa...é que aqui dizia Mercedes, então eu achei que fosse SENHOR."
"Como assim?"
"É...pensei que fosse um senhor, Mercedes."
"Mas Mercedes é nome de mulher."
"É? Não sabia...achei tão diferente..."
"E me ligou para...?"
"É que a revista Isto É está com uma campanha de incentivo à leitura...a assinatura vai sair por só 6 vezes de 35 reais."
"Puxa que bom...mas aqui em casa ninguém lê."
"Não?"
"Não...obrigada."


"Alô...?"
"A Senhora Menezes se encontra?"
"Não tem ninguém com esse nome."
"Não?? E o Tiago?"
"Também não tem Tiago."
"Ai...é da telefônica, eu sou o técnico, precisava terminar um reparo..."
"Não seria Mercedes? Diogo?"
"Ah...isso!"


"Por favor o Senhor Diogo?"
"Ele não se encontra...são 3 horas da tarde...ele trabalha."
"A que horas eu posso encontrá-lo?"
"A que horas você chega na SUA casa?"
"Não importa, Senhora...a que horas ele se encontra?"
"Depois das 9."
"Só trabalhamos até as 18, senhora."
"O que você quer que eu faça?"
"Tem um telefone onde eu possa encontrá-lo?
"Alguém liga pra você no trabalho?"
tuuu. tuuuu. tuuuu. tuuuu...


"Alô? Senhor Luiz?"
"Não."
"O Senhor Luiz se encontra?"
"Ah!...não."
"A que horas ele chega?"
"Não sei...ele não mora aqui."
"Mas ele chega em algum momento?"
"Ele não mora aqui."
"Sim, mas ele vai aí as vezes?"
"Só se vem escondido, porque eu não conheço nenhum Luiz."
Tuuuu. Tuuuu. Tuuuuu.

"Senhora Mercedes, então, daqui a uns cinco minutinhos, uma mocinha muito simpática vai ligar para a senhora...a senhora explica que falou comigo - o Jean - e que quer cancelar as assinaturas...ela é uma mocinha muito simpática...a senhora explica para ela. Assim ela cancela as assinaturas e bloqueia os seus cartões para nunca mais acontecer de a senhora receber revistas indesejadas, está bem? Então...daqui a uns cinco minutinhos, uma mocinha muito simpática vai ligar...a senhora atende, entendeu? Daqui a uns cinco minutinhos, uma mocinha muito simpática..."
"ENTENDI, JEAN! CHEGA!"

No dia seguinte...

"Alô?"
"Senhora Mercedes? O Jean da editora me pediu para ligar para a senhora para confirmar as assinaturas das revistas Isto É Gente, Menu, Planeta, blablablablabla"
Tuuuu. Tuuuu. Tuuuu.

Me diz pra que é que eu ainda atendo telefone!

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Sexta-feira, Novembro 14, 2008

Eu mereço!


Foi feita uma pesquisa na Inglaterra ano passado que constatou que entre as coisas mais chatas do mundo estão: 1. Telemarketing 2. James Blunt, nessa ordem. Eu estou pensando seriamente em ligar pra quem fez essa pesquisa pra dizer que eu concordo, mas até jogaria o James (You're Beautiful, Same Mistake, clipe chato, voz insuportável, música enlouquecedoramente repetitiva) para terceiro lugar só pra poder incluir corretor de imóveis. Como diria Cersibon: "Meldels!!", que saco!
Funciona assim: um dia você e seu marido se olham e dizem um para o outro.
- Será que não era bom a gente dar uma olhada numas casas ou nuns terrenos pra comprar?
- É...talvez...

Eles escutam! Juro! Eles escutam pensamento. Escutam o mais remoto desejo que possa passar pela sua cabeça quando você vê uma casa bonitinha..."assim é legal". Ferrou! Não estamos sozinhos!! Em no máximo um dia o seu telefone começa a tocar. Aquele primeiro corretor que te mostrou uma casa para alugar há seis anos, lembra da sua existência. Aquela outra que jura que é tua amiga...mas amiga AMIGA, de ir junto no banheiro e segurar a sua bolsa...de pedir O.B. emprestado no meio da festa...essa também surge das cinzas e não para de ligar.

Mas até aí tudo bem, já que você queria mesmo ver uma casa. O problema não é nem esse. O problema é que você diz que tem, por exemplo, 100 reais para comprar uma casa. Ótimo...eles ouviram, eles anotaram, eles entenderam, mas misteriosamente eles só te levam para ver casa de 200. Deve ser um truque de psicologia alá Lair Ribeiro, para você ir para casa arrasado se achando a criatura mais pobre do mundo, pedir pelo amor de deus pro corretor te ajudar a encontrar algo que você possa pagar, e a partir daí aceitar qualquer coisa. Tipo hospital sabe? Um velho amigo dizia que quando você entra no hospital, a primeira coisa que fazem é uma lavagem intestinal, assim você perde completamente o amor próprio e depois disso permite tudo.
Fora o truque da casa que não é para o seu bico -- que na verdade na verdade é porque eles acham que você tem mais, mas não quer contar -- eles nunca levam você para ver uma ou duas casas. São cinco, seis, e a maioria está ocupada, o que faz com que a visita seja mais longa, uma conversinha aqui...uma explicação ali... "Esse dormitório pode virar suíte se você quebrar essa parede, mas meu marido não quis, porque a mãe dele blablabalbla..." "Só um cafezinho..." No fim do dia você está podre, não sabe mais que casa era qual, qual custava quanto, e se ouvir o telefone tocar vai defenestrar o coitadinho com medo que seja outro corretor. Sabe aquela sensação esquisita de estar numa excursão com 35 secretárias executivas que usam perfume doce de manhã? Você se vê ali no ônibus, escuta o assunto delas, vê a tralharada que elas compraram e pensa "Jesus, eu quero morrer!"? É bem assim.
Mais ainda tem o Blablabla: a casa é bonitinha...mas é cheia de mármore bem brega, você chega na sala e a primeira coisa que vê é um muro de 20 metros no fundo do quintal, o andar de cima parece um apartamento, os banheiros são ridículos de tão pretenciosos, e ela custa aquele seu dinheiro vezes três.
- WHAAAT? Por que?
- É no condomínio X...!
- Espera...é no condomínio X! Isso quer dizer terrenos pequenos, não tem como abrir uma janela sem dar de cara com alguém que não mora com você. Hello?
E se a casa é no condomíno Y, a desculpa para o preço varia: "Mas esse condomínio está na moda! Até o (espaço reservado para nome de celebridade brega) mora aqui!!" Mas quando você fala que viu uma casa boa no condomínio Y e estão te empurrando aquela do X, a história vira:
-"Você não quer morar no condomínio Y! Aquilo tá super desvalorizado..."


Blablablabla.
E o incrível é o mal gosto latejante! Eu avisei! Há 15 anos, quando eu disse que essa história de espalhar o axé por aí, achar que a brasilidade está "na boquinha da garrafa", e que Funk carioca é uma manifestação musical válida...eu avisei! Eu disse que assim que a Viviane Araújo e a Carla Peres ganhassem um Jaguar, a classe média ia usar calça branca. Eu avisei! Pois tá aí...usa. Usa calça branca e mármore na sala, no banheiro, na cozinha, na churrasqueira (oops! espaço gourmet)! Muito mármore, colunas na fachada, muito corrimão dourado pra "orná" com o mármore...Aí o corretor diz "olha o acabamento dessa casa!" e eu penso "a pessoa gastou uma fortuna pra encher isso aqui de coisas que eu vou tirar. Se não fosse isso, dava pra comprar a casa por "dez real", parcelado em 48 meses e tava tudo lindo".

Moral da história: se um dia eu quis matar todos os atendentes de suporte técnico, hoje eu viro a minha mira para os corretores de imóveis. De todos os que falaram comigo, só um foi honesto, competente, direto, claro e não me fez olhar em volta para ver se eu não tava numa concessionária picareta de carro usado. Para minha surpresa, não usava gravata nem perfume doce. Era uma pessoa com cara de quem trabalha, roupa de quem dá duro, e o carro todo ferrado. Morte a todos os outros!

Bom fim de semana.

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Sexta-feira, Outubro 03, 2008

Perguntas que me intrigam

Existem perguntas sem respostas decentes. Perguntas para as quais, mesmo que eu repita todos os dias, encontro semi-respostas, que não me convencem.

. O que faz a minha empregada guardar livro na estante de cabeça para baixo?
. Por que o dicionário da Apple é de português de Portugal?
. O símbolo da medicina - o caduceu - são duas cobras em espiral ascendente em torno de um bastão, vem da mitologia grega (Hermes) e se assemelha à forma do DNA. Quem sabia da existência do DNA na Grécia antiga?
. Onde vão parar os elásticos de cabelo? E os pregadores de roupa?
. Quem disse que o José Mayer é bonito?
. Por que sempre tem Tylenol quando você procura buscopan e o Tylenol some quando você tem dor de cabeça?
. Como encontraram tabaco no corpo dos Faraós, se o tabaco só existia nas Américas?
. Você conhece alguém que ferva algo na chaleira além de água?
. Quem disse pro Edson Celulari que ele fica bonito de sobrancelha tirada?
. Você já vestiu uma bota que não tivesse uma meia esquecida dentro?
. Quem deu o mapa de Orion para os egípcios reproduzirem com pirâmides?
. Por que as pessoas falam sozinhas em novela?
. Eva foi feita de um pedaço do corpo do Adão. Como você explicaria "clone" para índios de uma tribo isolada?
. Alguém acha mesmo que o Q da Globo é de Qualidade? Já viu que, na novela, tudo treme quando bate uma porta?
. Quantos anos o Agnaldo Rayol tinha quando nasceu? Ele já era todo esticado?
. As células-tronco podem ser tiradas do cordão umbilical. Quem avisou para os antigos que eles deviam guardar o cordão umbilical das crianças?
. Por que todos os santos e deuses descem do céu fazendo barulho e cercados de luz?

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Quarta-feira, Setembro 24, 2008

Fortaleza


Eu reparei que aos 42 anos comecei a construir uma gaiola. Aos poucos fui pintando as grades da cor do céu que me cerca, fui acrescentando um pouco de conforto, boa comida, água fresca, tentando fingir que eu nada construía, e de pedra em pedra, de barra em barra, construí uma fortaleza ao meu redor. Uma fortaleza de paredes sólidas para me proteger.

Nos últimos cinco anos, acho que vivi sim trancada dentro deste forte, tentando me poupar - não me privar - de ver que ali fora alguns maus espíritos transitam para lá e para cá, algumas coisas são feias, algumas pessoas são más. Acho que é isso que meu marido quer dizer quando repete que eu vivo num mundinho cor-de-rosa (deus conserve!). Claro que é.
Pois meu mundinho cor-de-rosa existe sim. Só que deixei janelas abertas nas paredes para que minha voz fosse ouvida.
E foi assim, escrevendo o que eu penso e jogando pelas minhas janelas, que vivi esses anos últimos...como a bruxa do castelo, a fada da gruta, ou a princesa da torre; depende do dia. Foi só quando cheguei aqui, quando terminei de levantar as paredes, que eu consegui gritar mais alto e ser ouvida. Foi só aqui que eu descobri quem eu sou e para quê eu sirvo. Daqui de dentro fiz amigos. "Hello stranger..." isso mesmo, estranhos vindos de lugar nenhum, vindos de todo lugar, vindos do céu que me cerca, e eu posso chamá-los de amigos. Foi daqui que eu pude buscar os amigos deixados para trás, resgatar pessoas que eu sempre adorei, me aproximar delas como a vida lá fora jamais permitiu.
Aí estes amigos estranhos, essas pessoas distantes e ainda tão próximas, falam de luz, de ser imprescindível, de ser única, vêm buscar nas minhas palavras o que às vezes falta às delas...e eu vejo que só depois de aprisionada eu fui realmente livre.

Hoje fazem 47 anos que eu comecei uma busca até então sem fim. Achei.

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Quinta-feira, Setembro 18, 2008

Quem perguntou?

Ninguém perguntou, mas eu vou contar como andam as coisas aqui no reino de Mercedes.

. Toda blusa é uma bata.
. Tem poeira em todos os cômodos.
. Estou dormindo no quarto de hóspedes, porque chegou a hora de pintar o meu quarto.
. Toda calça cai se eu andar rápido.
. Meu closet segue trancado porque agora eu estou com medo que roubem mais alguma coisa.
. Toda vez que eu preciso pegar uma roupa, esqueço de pegar a chave.
. A cozinha tem cheiro de tinta esmalte.
. A escada ainda está forrada com papel craft.
. O banheiro do quarto de hóspedes não comporta este casal espaçoso.
. Meu carro vai demorar quase 20 dias para ficar pronto.
. Meu carro-reserva é uma pulga cujo único feature interessante sou eu.
. Eu ainda fico meio aflita se o Diogo demora pra chegar.
. O lugar preferido do meu marido virou depósito de tinta e roupa fedida de pintor.
. Hoje fiquei sem luz mais de 3 horas.
. Eu não saio de casa antes das 4:30, porque (de novo) tenho medo que roubem mais alguma coisa.
. Meu banheiro está inteiro coberto com plástico preto empoeirado.
. Não treino há quase um mês.
. Sigo comendo mil calorias por dia, mas ontem descontrolei geral e comi pizza. Com certeza, o nome do descontrole era "pintor".
. Desde que roubaram a câmera eu só consegui ir ao médico uma vez.
. Todos os CDs da casa estão dentro de uma caixa plástica gigante e eu nem penso em guardar.
. Estou com a mesma blusa há dois dias, porque esqueci a chave e resolvi vestir a de ontem.
. Não importa para onde se olhe, haverá um rastro dos pintores.

Quer trocar?

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Terça-feira, Julho 08, 2008

Meus Não Gostares

. Não gosto de legume refogado. Tem cheiro de hospital e casa de velho.

. Não gosto de gente que fala olhando para baixo. Geralmente são pessoas enrustidas que se fazem de humildes, mas humildade não é submissão. Espero sempre a punhalada, e ela vem!

. Não gosto de quem anda como gato, sem fazer barulho, se esgueirando pelas portas, que pede licença pra existir. Gosto de gente espaçosa que pisa firme e fala grosso.

. Não gosto de dirigir com som muito alto: entro em transe e saio do chão. É perigoso demais. (eu nasci chapada, lembra?)

. Não gosto de olhar para baixo quando estou em lugar alto. Meu medo de altura supera toda a razão do universo.

. Não gosto de pagar contas. Acho injusto pagar para comer. Já disse isso antes: devia ser proibido pagar por qualquer coisa que dure menos de 7 dias ou vire cocô de alguma forma.

. Não gosto de sentar no banco do passageiro, ou atrás. Quero o volante na minha mão, e isso cabe a todas as áreas da minha vida.

. Não gosto de montanha russa, carrocel, pêndulo, trapézio, chapéu mexicano e das coisas que divertem a maioria das pessoas. Mas qualquer prazer me diverte. (Eu disse "prazer". Frio na barriga e tensão não me dão prazer nenhum, muito pelo contrário).

. Não gosto de pimentão cozido, banana crua, doce de laranja, limão depois de meia hora, torta de requeijão, carne bem passada, azeite que não seja de oliva, bebida muito seca, perfume muito doce, melado com farinha, goiabada com queijo, pão doce, coisas à califórnia a não ser eu...na Califórnia.

. Não gosto de música repetitiva. Mesmo os maiores gênios da música são capazes de me irritar profundamente com um instrumento repetindo a mesma nota, que você nem sabia que estava lá. Isso serve também para refrões, solos infinitos, jazz ou rock progressivos, finais de música que repetem a mesma letra: "Tá bom! Já ouvi! Cala a boca, praga!"

. Não gosto de amigo folgado que acha que o que é meu é dele: meu celular, meu cigarro, minha máquina fotográfica, minha grana.

. Não gosto de esperar resposta no msn.

. Não gosto de gente que fala fala fala e na minha vez tem que sair.

. Não gosto de pagode, sertanejo, sambinha mal cantado, nem daquela voz de carpideira das mulheres da velha guarda da mangueira. Também não gosto desse novo-emo-rock-brasileiro-mal-cantado-pra-carái-com-letra-ruim-demais.

. Não gosto de filme de terror. Cinema não é pra passar mal.

. Não gosto de perder o controle, não saber o que falo ou faço, não estar firme para caminhar ou raciocinar. Por isso nunca me dei bem com as drogas e detesto tomar calmante. Pra mim é um "prazer-terror", igual às montanhas russas e etc. Não entendo essa sensação de "liberdade" incompreensível. Sou super livre com meus pés no chão. Rio, me divirto, crio e saio da realidade sem precisar de agentes externos. Bem...já mensionei que nasci chapada?

. Não gosto de ingratidão.

. Não gosto de um monte de outras coisas pequenas que na verdade não fazem muita diferença na minha vida. Sou tolerante o bastante pra aguentar até cheiro de abobrinha refogada. Mas só de vez em quando!

. Ah...não gosto de falta de assunto. ;)

Bom dia.

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Terça-feira, Julho 01, 2008

Multitalentos Sazonais.



"- Então, Mercedes, o que você sabe fazer?
- Depende...quando?
- Como assim quando?
- É que um dia eu sei coisas que nunca mais vou saber. Amanhã já sei outras..."

Não, não é que eu seja exatamente louca, é que as coisas mudam na minha vida de uma forma estranha. Sério! Eu sei fazer tudo e nada ao mesmo tempo, a não ser que eu precise aprender em tempo récorde alguma coisa que eu resolvi que é importante saber.
Complicado ainda? Ah...me deus...então eu vou ter que contar história.
Tudo começou quando eu nasci. Naquela época eu não sabia fazer nada e talvez isso tenha sido um pouco irritante. Eu cresci meio tonga, completamente sem agilidade para coisas de criança: eu corria mal, eu era péssima piloto de bicicleta, era atrapalhada, não andava em muro, não pulava corda decentemente, não entendia a maioria da brincadeiras, não tinha elasticidade... Então precisei me virar para saber muito muito bem as coisas que eram urgentes, como pular elástico. Campeã absoluta de pular elástico no recreio, hoje não lembro nem a sequência da coisa toda. Depois fiquei craque em subir em árvore, mas só em árvore, até que fiquei incapaz de subir num banquinho, quanto mais numa árvore.
Bom...as aulas de educação física eram uma tragédia, a não ser que fosse ginástica ritmica ou coisas relacionadas a dança e teatro. Então grudei na minha amiga bailarina e ninguém dizia que eu não fazia balet com ela. Aprendi coreografias que ela passava o ano ensaiando e...Bingo! Aprendi a dançar. A partir dali, sempre que tinha uma apresentação na escola, eu fazia parte da equipe que coreografava e estava sempre na primeira fila. Isto me rendeu alguns dos maiores micos da minha vida, como aprensentar uma dança sobre a Gralha Azul num congresso de educação em Fortaleza, onde eu e mais duas meninas éramos pinhões. Foi assim que desisti da dança...E continuava estabanada e desengonçada para a maioria das coisas.
Na 5a. série, eu já estava exausta de não saber matemática - a verdade é que não sei até hoje - e eu odiava aquele professor coreano que tinha um bafo terrível que eu só vim a sentir de novo quando fui a primeira vez na Rua 25 de Março. Sim, na hora do almoço aquele lugar fede a sopa de pum, que era exatamente o bafo do meu professor. Para me livrar dele, eu aprendi logarítimo. Acho que eu sabia mais do que ele. Tirei 10 em todas as provas daquele ano. Eu - a rainha do logarítimo! Pois é...mas nas férias eu já tinha esquecido tudo. O meu outro truque, já que eu não tinha capacidade de decorar as fórmulas malditas de física e matemática era calcular as coisas usando o método "MY WAY", ou seja, eu olhava para o exercício e resolvia que ia dar um jeito nele...e ia calculando ao deus dará até chegar a algum resultado. E pasme! Nem sempre estava errado, embora estivesse. O tempo que eu levava explicando o meu raciocínio para o professor era suficiente para ele resolver que eu me esforcei. Bingo outra vez!
Para compensar todas as notas horríveis de todo o meu "ginásio" e segundo grau, eu escrevia. Minhas redações eram geniais assim como os trabalhos de história, onde eu dava um banho, não da história em si, mas da minha visão dela. Pronto! Achei o jeito de passar de ano: escrever muito sempre. Como isso nunca bastava, eu aprendi a falar. Falar passou a ser o meu principal talento: "deixa que eu apresento!" Na faculdade eu trabalhava e não tinha tempo para nada, então minha equipe fazia sempre um lazarento trabalho mal escrito, com conteúdo tosco...eu chegava na faculdade, matava a primeira aula, pegava os livros que serviram de fonte para o trabalho tosco e dava uma lida. Isso já dava para eu chegar la na frente e garantir um 10. Como? Falando, elocubrando, enrolando! Neste mesmo raciocínio fiz uma prova de biologia que tinha uma pergunta só, num papel almaço. Aff... justamente a pergunta que eu não sabia responder. Básico, comecei assim: "Isso eu não sei, mas se você me perguntasse como funciona o...." e quatro páginas de blablablas a respeito....pronto; outro 10.
A conclusão é que durante a minha vida escolar descobri meus dois únicos talentos duradouros: escrever e pensar.
Mas um dia vi um desenho feito pelo meu tio Marcilio e perguntei como ele conseguia desenhar. Ele respondeu: "segura o lápis bem lá em cima e desenha." Isso já era informação suficiente para mim. Peguei papel, segurei o lápis bem lá em cima e copiei uma foto da minha mãe. Deu certo. Aprendi a desenhar e a partir daquele dia passei a desenhar bem. Durante muito tempo desenhei, pintei quadros, retratei pessoas. Tive um namorado lindo, e um dia resolvi fazer um presente para ele; fiz um quadro que misturava colagem e desenho, com o rosto dele. Não me lembro bem como era, mas lembro que a colagem era com papel vermelho, o rosto dele com crayon e ficou genial. Nunca mais desenhei. Sei la porque.
Aos 14 anos me vi sozinha de castigo dentro de um quarto onde eu teria que estudar três horas por dia durante as férias inteiras. Dammit! Fora eu e os livros, o quarto guardava um violão. Pronto...peguei o violão e resolvi que ia tocar. Foi difícil, fiz bolha dos dedos, não estudei nada mas consegui. Depois ficou muito difícil tirar as músicas que eu gostava, sem o menor conhecimento de nada, então eu, que já escrevia, comecei a compor. Ha! Que fácil! Não sei se as músicas eram boas, porque esqueci todas elas, mas sei que ganhei um festival no colégio, e que me divertia tocando para as minhas amigas que sabiam todas as músicas de cor. Quer saber se eu ainda toco violão? Impossível! Nem quadradinho de dó! Nada! Nem Stairway to Heaven, que o universo inteiro sabe! Ensinei meu irmão, algumas amigas, meu primo, fiquei sem violão e desaprendi completamente. Hoje aqui em casa tem dois violões e uma viola...e nada!
Eu também fiz quadros em aquarela com desenhos infantis que contavam histórias em espiral. Lindos! Lindos! Se eu encontrasse pra comprar compraria todos. E o que eu fiz? Dei um para minha filha, um para minha sobrinha, outro pra filha de uma amiga, e nunca mais fiz nenhum. Muita gente perguntou por que eu não escrevia um livro infantil assim, eu achei uma idéia bonitinha, e desaprendi a pintar com aquarela...
Quis saber sobre kabalah, sobre anjos, sobre energia, sobre fengshui, sobre o poder do pensamento...fui atrás, aprendi tudo, usei tudo o que podia, fiz terapia de regressão, hipnose, aprendi a ler Tarot, me aproveitei de cada informação, resolvendo coisas ha muito abandonadas na minha vida. Um dia, minha irmã mais velha tornou-se uma mística... mais tarde um pouco, me ligou perguntando alguma coisa e eu disse a ela que não fazia a menor idéia. "Como assim? Foi você quem me ensinou tudo o que eu sei!" Foi? Nossa...eu não sei mais nada disso.
Nesse mesmo clima de "preciso saber" aprendi inglês sozinha...só porque eu quis. O Francês que eu aprendi na escola, esqueci. Mas costurei. Muito ajustei meus próprios jeans. Já fiz enfeites de natal de matelassê com moldes próprios: papai noel, anjinho, botas, estrelas, pinheirinhos...além de fofos e recheados, eles tinham bordados e apliques. Duraram milênios. Foram feitos há 25 anos e minha mãe ainda tem alguns. Se hoje eu sentar na máquina de costura, embolo toda a linha e sequer consigo traçar uma linha reta. Esqueci!
Já pintei cerâmica, fiz vasos, pintei madeira, fiz suplats de natal, coisinhas country, já fiz pátina em móveis, já fiz blusas de tricot trabalhadézimas, já fiz cartões com colagens incríveis, já fui a melhor em cabalhota sem as mãos...já fui fotógrafa - vocês lembram!

E todas as coisas que eu sei, todas as que já fiz, todas elas vêm e vão, como se não passassem de uma necessidade momentânea. Eu aprendo rápido. Eu esqueço rápido. A única coisa que veio e nunca mais se foi, parece ser essa necessidade de escrever e pensar e especular e viver sonhando. Todo o resto é passageiro e vem preencher um espaço, quando o espaço existe.


Tocando Violão - By Zanicotti, 1974?
Fada - foto 2005

Vela - falta do que fazer 2003
Natal - idem, 2004

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Terça-feira, Junho 24, 2008

Dias atrás, no reino de Mercedes...


Ai ai...isso foi um suspiro sim.
- Quantas vezes você chorou hoje, Mercedes?
- XIII...

Ah, claro, aquilo ali pode ser algarismo romano e não seria exagero porque hoje foi dia de manteiga derretida, de lacrimeiro solto, e de emoção transbordante - literalmente.
Começou ouvindo pela enézima vez no mesmo dia "Thank You", do Led Zeppelin, num cover do Chris Cornell. O que é aquilo? Uma música feita pra mim? Sim, porque eu sou aquela mulher (pode me chamar de convencida). Eu sou tudo o que um homem pode querer para ter ao seu lado até o fim dos seus dias, sem tirar nem por, porque eu sei o quanto está em falta por aí alguém que não seja cheia de regras, de direitos iguais, de chatices, sandices, e uma cartilha chatérrima de queros e não queros, podes e não podes, quandos, porquês, não-ouse's, ciuminho besta, etc. Eu sei que a fôrma que fazia mulheres que respeitavam seus homens como indivíduos e chefes (mesmo que pseudos) de suas famílias já foi jogada fora faz tempo. Ta...sei também, porque já faz tempo que meu próprio marido tocou essa música pra mim. Ha! Melhorou?
"Your hand in mine, we walk the miles", não é a melhor coisa do mundo pra se dizer ou se ouvir? E lá pela quinquagésima vez no repeat, eu desabei em lágrimas.
O dia passou e eu esqueci de ler o blog do Felipe Iubel, já era noite, eu corri pra lá porque ele é carente e ia ficar triste se eu não comentasse. Sim, claro, acabei de dizer que eu sou a mulher ideal, e a mulher ideal realiza todos os desejos de seu amo e senhor, mesmo que ele seja só um amigo. O que aconteceu lá me deixou no chão. O Felipe escreveu um texto que descrevia a ele metade do tempo, e a mim a outra metade. Claro que não de propósito. Ele estava falando dele mesmo mas parecia eu pensando. Parecia eu escrevendo quando estou exausta de dar murro em ponta de faca e ser sincera demais, verdadeira demais, dar a cara a tapa, me despir de orgulho próprio, ser muito mais burra do que nasci pra ser, e me expôr a sentimentos despresíveis como rejeição, sensação de não bastar, de ser menor, de simplesmente não ser capaz. Toda aquela verdade escancarada, como se ele tivesse rasgado o coração e procurado com os dedos sujos de sangue cada palavra para escrever, me fez chorar de novo.
Aí pensei como as relações andam difíceis hoje em dia. Meu deus! Em que cartilha está escrito que ser intenso é crime? Quem estipulou os prazos para telefonemas, mensagens de texto, presentes, visitas relâmpago? Onde compra o novo código penal para ficar sabendo quantos anos de solidão acompanhada alguém precisa viver para ser livre para se apaixonar de verdade? Sim, porque paixão virou crime! Não ouse mostrar para a pessoa aquela que você está se apaixonando...isso pode afastá-la para sempre. Uh? O que aconteceu com as pessoas? Lembra da moça na janela corando ao ver o moço que passa em frente à sua casa? Lembra das cartas de amor? Lembra quando a gente recebia flores? Lembra quando um beijo na boca na porta de casa determinava que um casal ia, com certeza, se ver de novo? Era tão melhor, tão mais fácil, tão mais bonito...
Então, no meio de todo o meu lacrimeiro solto eu tive algum lampejo de raciocínio e percebi que eu não preciso mais de nada disso. Ufa! Gente, como eu já sofri por amor...meu pai! Ninguém merece.
Eu tenho pena...tenho muita pena de adolescentes e solteiros, porque eles se julgam livres, acham que se divertem horrores, pensam que enganam alguém...Mas eu sei, eu sei muito bem o que acontece quando eles deitam a cabeça no travesseiro e têm seus últimos minutos de lucidez antes de se deixar abater por um sono profundo...Eles sonham como a moça da janela. E é solitário demais. Já era antigamente. Agora, com todas essas normas, deve ser quase suicida!

Deus me conserve casada!



Felipe Iubel é aqui
e o texto aquele é aqui

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Terça-feira, Junho 10, 2008

Precisa-se de Borboletas

Oi, Me!
Estou tão triste, e você sabe, sempre que isso acontece eu corro pra você.
Ninguém mandou ter tanto tempo e ombros largos. Eu preciso deitar a cabeça no ombro de alguém, e you are the one.

Então...minha vida está calma. Meu coração está calmo. Meu trabalho está calmo. Até o CD no meu carro é calmo. Tudo estável. Tudo controlável. Amiga, você tem noção? Isso é um inferno!
Eu não aguento mais tanto equilíbrio! Eu quero minhas borboletas de volta, fazendo arruaça dentro do meu estômago. Eu quero, eu preciso, eu tenho que me apaixonar.
Aff, como eu sou débil mental, eu sei. Você deve estar se matando de rir da minha cara. Enquanto o mundo inteiro toma anti-depressivos, calmantes, faz Yoga, meditação, Heik, terapia de chácras, eu sinto falta da minha montanha russa. Me explica como esse povo consegue viver nessa paz? Quem precisa de paz? Eu preciso de paixão!
Paz não é uma coisa divina...paz é o inferno disfarçado...é morna, é fria, é silenciosa, é acomodada. Divina é a paixão que modifica tudo, que bagunça o chão, que faz a gente andar mais longe, dar mais um passo, sentir-se viva. Ai Me...que saco! eu queria ser normal (ou nem).

Bom, sejamos práticas! Você vai perguntar COMO eu não estou apaixonada...cadê aquela homarada que sempre esteve à minha volta? Cadê? Cadê?
Estão todos aí, Me, no mesmo lugar. Mas ai! Cansei!
Tem aquele diretor de arte gatinho, ta logo ali no meus MSN me olhando as we speak, mas ai que preguiça...quanto tempo faz que a gente fica nessa galinhagem de se provocar pela internet? Já não dava para eu ter morrido de paixão por ele? Se não aconteceu até agora, só por um milagre, amiga. Só se a gente saísse da zona de conforto de olhasse um na cara do outro. Aí sim, talvez, não sei.
E tem aquele bem novinho, lembra? Aquele que era lindo de dar dor de estômago? Aquele de faz tempo? Então...ressurgiu das cinzas, agora super decidido a fazer o que não fez quando devia. Hmm...preguiça. Preguiça porque isso exige um tempo de distância segura, mandando fotinho, recadinho, carinhozinho...Papo furadézimo, falta de assunto, porque a inteligência dele só aparece ao vivo sabe? É inteligência visual (hahahha!). Bom...e assim como o outro ali em cima, se não bateu ainda não vai bater. Não, a não ser que ele deixe de ser mané e me sequestre pra ver no que dá. É, porque dessa vez eu não vou mexer um dedo mindinho para ir ao encontro dele. Ele que venha. Ele que mostre que é homem. Ele que tenha coragem, mas ai...preguiça também. Vai ficar nessa lenga lenga até quando?
E tem o outro. O único que pode vir a ser alguma coisa séria. Tá la, em stand by, cuidando da vida dele com um olho no gato e outro em mim, mas não toma uma atitude. Será que o que os três têm em comum é medo de mim? Ou eu to fedendo?
Será que nenhum dos três consegue ler a placa em letras garrafais na minha testa, piscando em vermelho 24 horas por dia: SURPREENDA-ME! ARREBATE-ME! FAÇA ALGO APAIXONANTE!
Ai que preguiça...ai que tédio...ai que ódio! Meee!! Diz pra eles que eu preciso me apaixonar? Diz pra eles que eu não aguento mais homem sem atitude? Diz pra eles? Eu estou tão cansada de ensinar todos os homens que chegam perto de mim como eles deveríam agir..."Vem cá meu filho que eu vou te contar o que uma mulher espera de um homem." Ah...o que aconteceu com eles? Quem estragou os homens? Eu quero as minhas borboletas de volta.

Help!!

Beijos

Ella

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