"And when I touch you
I feel happy inside,
It's such a feeling
That, my love, I can't hide."
Lennon & McCartneyEu fui jantar com a Wanda e as filhas -- Katlin e Heidy -- e os respectivos namorados. Três casais e eu, sozinha. O garçom serviu as bebidas, um dos meninos pediu um vinho, o que deixou a Wanda tensa, porque ela anda muito sem grana e não é bem assim tomar vinho francês em Los Angeles.
A gente estava lá conversando quando o telefone da Katlin tocou. Desde que o pai dela teve um problema com a polícia, telefone tocando à noite a desagrada visivelmente; sempre esperando o pior. A cara que ela fez quando perguntou:
“QUEM??” foi quase assustadora. Depois, de uma hora para outra, começou a falar baixo, levantou e saiu da mesa. Todo mundo estranhou, mas eu me encarreguei de tentar levantar a conversa para acabar com o mal-estar.
Quando a Katlin voltou, estava de testa franzida, cara de pouquíssimo entendimento, sentou e foi bombardeada de perguntas:
“Quem era?” “ O que houve?” “Aconteceu alguma coisa?” “Tá tudo bem?”Ela ergueu os ombros com a cara esquisita e disse.
“Tá. Meio surreal…mas ta tudo bem.” O namorado olhou feio pra ela, ela falou alguma coisa no ouvido dele ao que ele respondeu:
“Coisa estranha…” E acabou o assunto quando o garçom chegou com os pratos.
Eu tinha dado uma única garfada no meu peixe, quando a Katlin cutucou o namorado e olhou para alguém que se aproximava. Claro que eu percebi, e olhei também.
Ai meu Deus! Eu paralisei.
Não conseguia mexer um músculo, embora quisesse gritar.
Lembra o homem no fundo do mar? Aquele do sonho? Aquele que tentava me dizer alguma coisa e eu não entendia? Ele. De verdade. De carne e osso. De camisa branca pra fora do jeans. De cabelo despenteado. De garrafa de vinho na mão. E nervoso.
Ele parou perto da mesa olhando pra mim, tão paralisado quanto eu. Juro que eu não tinha certeza se eu estava acordada. Fiquei confusa…o que ele estava fazendo ali? Por que estava me olhando daquele jeito? Quem disse que ele podia existir e ainda aparecer assim? Quem é essa criatura, pelo amor de deus?
Ele se curvou um pouco, meio com medo de cair, colocou a garrafa na nossa mesa, me deu um sorriso nervoso, daqueles que abrem e fecham várias vezes sem saber se podem acontecer, falou com a Katlin, sem tirar os olhos de mim nas primeiras três palavras.
- Katlin! Que bom ver você….
- Oi Jack… você veio!
Nessa frase todo mundo olhou pra ela com cara de espanto.
- Gente, eu convidei o Jack pra jantar com a gente. Tudo bem?
E ele:
- Me atrasei demais?
Foi o diálogo mais fake que eu já ouvi.
Mais do que rápido, como se fosse um concurso, a Wanda e o namorado da Katlin começaram a dizer, sem parar, frases variadas para consertar a situação e tentar fazer tudo parecer normal. O namorado da Heidy providenciou uma cadeira para ele, mas ele não conseguiu sentar. Cumprimentou um por um, até chegar em mim.
- Oi, eu sou Jack.
Ele balançava a cabeça num “sim” que parecia querer que eu concordasse, que eu dissesse: “
sim, sim, você é o Jack”.Eu disse o meu nome, e ele repetiu como uma grande descoberta:
- Môooonica…Muito prazer, Mônica…
Não, eu ainda não estava pronta para me mexer. Quando ele esticou o braço para apertar a minha mão, eu precisei fazer alguma coisa para os músculos ouvirem o meu cérebro porque eles ficaram irreversivelmente surdos. (Trombetas: ATENÇÃO NEURÔNIOS, COMANDAR BRAÇO DIREITO! MOVIMENTAR MÃO DIREITA! FORÇAR SORRISO ESPONTÂNEO!”. Ah…quanta energia gasta em três simples gestos: Estica braço, abre mão, sorri. Fiquei exausta só de contar.)
Por alguns segundos fiquei olhando para a mão dele ali estendida. A mão! Aquela mão! Lembra que eu falei que vi a mão dele no sonho e era demais? Pois era demais! Naqueles segundos eternos eu vi todos os dedos longos, a palma grande, o formato honesto das unhas, a linha da vida, a da cabeça, a do coração. Mãos eloquentes…mãos eloquentes…Ele me olhando, a mão esticada para mim, eu paralisada, ai que aflição, se mexe de uma vez!Foi!
Consegui me movimentar e sorrir um sorriso provavelmente idiota, mas pelo menos foi; e aconteceu o mais bizarro: quando meu dedo tocou a base da palma da mão dele, a proximidade produziu um mini raio de energia estática, que a mesa toda viu. O lugar era meio escuro, iluminado por velas, e a faísca pareceu um relâmpago tão forte, que a Heidy deu um grito. Ele soltou uma risada nervosa, e eu não consegui não abrir um sorriso gigante. Ele segurou a minha mão com força e não largou mais.
Isso durou muito tempo. A Wanda tentou mudar o clima da coisa fazendo perguntas sobre a família, “Jack, como vai sua mãe?” coisas do gênero, mas ele respondeu a todas sem largar a minha mão ou sentar. Entre eu e ele estavam Heidy e o namorado, com dois braços atravessados na frente deles. A Katlin perguntou se o Jack não preferia sentar, ele me olhou novamente, de uma forma um pouco mais urgente e respondeu alto demais.
- NÃO! – e continuou mais baixo - Quer dizer…não obrigado. Na verdade eu já jantei, eu só queria mesmo entregar essa garrafa de vinho para vocês comemorarem.
- Comemorar o quê? – a Wanda perguntou
Nessa hora, ele juntou a mão esquerda às nossas mãos direitas, segurando a minha com as duas dele.
- Comemorar....o encontro.
Aquilo tudo era muito surreal para eles. A verdade é que só eu e ele entendíamos o que estava acontecendo ali. Mas agora parecia que o resto da mesa meio que tinha desistido e resolveu ficar assistindo de camarote pra ver onde aquilo ia dar. Foi quando, ainda sem largar a minha mão, o Jack disse:
- Vocês vão me perdoar se eu roubar a Mônica de vocês, né?
A Wanda, como sempre curiosa e indiscreta, perguntou onde nós íamos "sem ela", e ele disse que não sabia, mas que nós íamos, e sem ela. Eu comecei a rir, porque ela merece demais uma resposta dessas, e foi só nessa hora que eu consegui relaxar, deixar meus ombros caírem, e soltar a mão do Jack. Meu Deus, ele olhava pra mim como uma criança, sorrindo com o rosto inteiro, sem nem tentar disfarçar uma euforia imensa que mal cabia no lugar. E eu, ai! Eu nem falava…estava tendo a visão mais incrível. Quantas mesmo são as maravilhas do mundo? Põe mais uma na sua lista.
Jack veio para perto de mim, olhou para a Katlin e disse:
- Katlin, você salvou a minha vida.
Ela olhou pra ele com estranheza, que conversa de salvar vida é essa?
- Sério…eu vou agradecer pra sempre.
E aí ele passou o braço pelas minhas costas, me puxou bem pra perto num semi-abraço e não se aguentou:
- Ahhh! Olha isso! – me apertando várias vezes – você existe! Eu consigo apertar você!
E me abraçou muito muito muito forte. Doeu! Aquele abraço doeu no peito, por dentro, como se estivesse torcendo todos os músculos, como se fosse um espasmo. Eu precisei puxar o ar com força para tentar conter a dor, e ele se curvou um pouco, demonstrando sentir a mesma coisa. Eu olhei nos olhos dele e estavam molhados. Não deu pra segurar nada, e eu também comecei a chorar, tentando não fazer uma cena, -- não chorar chorar, mas as lágrimas saíam sem eu poder controlar, não tinha como, não tinha mesmo. Ele me puxou de novo para abraçá-lo e falou no meu ouvido, bem baixo: “Por que eu tenho essa saudade de você?” Eu enxuguei os olhos dele o mais discretamente que pude, puxei o rosto dele para falar, no ouvido, que eu também não entendia, mas eu sentia o que ele estava sentindo.
A gente pediu desculpas, deu um tchau geral, eu peguei a minha bolsa e disse para a Wanda não se preocupar comigo. Quando ela perguntou se eu tinha a chave, ele respondeu antes que eu pudesse pensar:
- Ela não vai voltar hoje.
Eu franzi a testa pra ele, como se tivéssemos um segredo, mas ele me olhou meio bravo, meio me repreendendo e disse num tom mais grave:
- Você não vai voltar.
Tá, eu que não ia discutir, e nem queria mesmo voltar pra casa da Wanda onde eu estava hospedada há três semanas. A Wanda pediu pra gente contar o que estava acontecendo, e ele não me deixou responder. Disse que a história era muito longa, e que ele prometia contar depois, se tivesse um final feliz.
O Jack pediu o carro para o valet, e foi até o caixa pagar o jantar da nossa mesa. Disse que era o mínimo que ele podia fazer para agradecer o fato de ter conhecido a Katlin na infância e eu ter conhecido a Wanda um dia; de outra forma, nós nunca nos encontraríamos (imagina…a vida daria outro jeito, mas se ele podia dispor daqueles cento e poucos dólares, por que não?).
Eu fiquei na porta, esperando. Minutos depois, ele chegou por trás de mim, me abraçou, enfiou o rosto pelo meu cabelo e falou no meu ouvido:
- Quando a gente sair desse lugar eu vou te beijar tanto, mas tanto, que você vai morrer de beijo. Pode?
Eu ri, mas queria morrer! Você não sabe o que é ter aquele homem com todo aquele corpo que eu duvido que seja criação de Deus -- Deus não faria nada tão absolutamente irresistível – encostado atrás de mim falando no meu ouvido. Eu só consegui responder o óbvio: “Tenta.”
Era como se a gente estivesse junto há muito tempo. E estava, porque já fazia mais de um ano que eu sonhava com ele quase todas as noites. Ele não era novidade para mim, mas eu não sabia ainda a versão dele; ainda não tínhamos começado uma conversa que esclarecesse toda essa energia maluca que tomou conta de tudo, e que talvez fundisse de uma vez a cabeça dos dois.
O carro chegou, o valet abriu a porta para mim, eu entrei e já conhecia aquele cheiro de café, cigarro e perfume, misturado com banco de couro e cachorro. Parece horrível, mas eu juro que não é. É cheiro de carro de Jack, e eu já tinha aprendido a adorar aquilo em sonho, por isso não conseguia parar de sorrir. Ele entrou no carro e arrancou. Acho que dirigiu 300 metros sem falar, virou a esquina de uma rua tranquila, cheia de árvores e cercas baixas, em Beverly Hills, parou o carro, desligou, sentou virado pra mim, acendeu dois cigarros, me entregou um e começou a falar.
- Eu não tenho a menor idéia de quem você é. Eu sei que eu agi feito louco lá, mas não deu pra controlar nada. Era forte demais ver você ali e eu tinha que pegar em você, tinha que te olhar, e ah…você não deve tá entendendo nada!…mas você tá aqui!
Ele pegou a minha mão esquerda, começou a fazer carinho no meu braço, viu a minha tattoo e sorriu.
- Até isso é de verdade…
- Jack…
- Espera, não fala. Deixa eu te contar o que aconteceu, que acontece faz tempo. Você precisa ouvir pra não me achar um doido, até porque a essa altura não tem mais como eu fazer as coisas devagar, tentar não assustar você…e se eu assustei, me desculpa, mas não foge de mim, tá?…quer dizer, se você quiser fugir, eu não vou poder impedir, mas deixa antes eu te contar…
- Jack. Eu não vou fugir, você não me assustou, e acho que eu sei o que acontece…
Ora segurando as minhas duas mãos, ora fazendo uma verdadeira excursão pelos meus braços, sem parar, ele contou.
- A primeira vez faz um ano eu acho. Eu não sei direito quando começou. Eu sonhei com você, e você me pedia pra não esquecer o seu rosto. Só isso, muitas vezes, e o seu cabelo não tinha como esquecer, – mexendo no meu cabelo – era bem assim…
Enquanto ele mexia no meu cabelo, eu mexia no dele, e não tem como explicar a sensação de ter os cabelos dele passando por entre os meus dedos. É muito maior do que simplesmente ter cabelos passando entre os dedos: são os cabelos dele que muitas e muitas noites passaram pelo meu rosto, pelo meu pescoço, pelo meu peito, pelas minhas mãos, mas não eram reais. Agora são.
Ele continuou:
- Depois eu sonhei de novo, outra coisa, e depois de novo, e você foi chegando mais perto, já tinha me convencido a não esquecer a sua cara, e já tinha me dito outras coisas, e eu tinha medo. Me incomodava sonhar todo dia com a mesma pessoa, parecia coisa de gente maluca. Eu comecei a dormir mais tarde, não dormir, beber pra dormir mais pesado, e só baixei a guarda muito depois, na noite que eu toquei em você, e foi real. Então eu quero que você entenda o meu estado quando eu te vi. É você, entendeu? A minha loira do sonho. A mulher que dormiu comigo esse tempo todo, que eu vi todo dia, que eu não sabia se existia em algum lugar do mundo, se tava morta e era um fantasma, se era de verdade, se era imaginação, sei lá. Nem sempre a gente só falou. Nem sempre você só tava lá. Muitas vezes, muitas, inúmeras, incontáveis vezes a gente fez amor. E é mágico...
Eu fiquei sem jeito, mas eu sabia. Sabia de tudo e sabia do sexo, claro, porque ele também não ficava passeando nos meus sonhos, brincando de sereia no fundo do mar para sempre. Ele saiu do mar logo…e logo estava na minha cama.
- Eu sei.
- Sabe?
- Sei tudo, Jack…
- Você também?
- Também. Eu sonhei com você todo dia também, morri de aflição também, desisti de dormir também, baixei a guarda e entreguei a chave do castelo...também.
- Então você sabe…
- O que?
O Jack real tinha uma coisa melhor do que o Jack do sonho: ele era milhões de vezes mais carinhoso. Eu não vou dizer que ele é fofo, porque fofo é ridículo e não combina com um homem daquele tamanho. Se aparecer uma palavra que signifique a mesma coisa sem ser ridícula, eu vou ter prazer em dizer que ele não é fofo. Mas é. Ele é todo olhares e mãos…ele fala com palavras e com os olhos, com as mãos e com os ombros, ele diz o que quer e confirma com o resto do corpo. Ele é todo verdade, todo transparência e tudo o que essa verdade e essa transparência tinham para dizer, é que ele era o homem mais feliz do mundo por estar perto de mim, e não queria deixar isso acabar por nada nesse mundo.
- Que eu não vou desgrudar de você.
- Pergunta se eu quero.
- Eu não….
E ele me beijou. Lembra aquela hora que a gente se abraçou no restaurante e sentiu uma dor estranha, no peito? Dobra aquilo. Era uma coisa aguda, o coração sendo torcido feito uma toalha molhada, quase insuportável e ao mesmo tempo, pasme, trazia um alívio gigantesco. E o beijo? Foi como fechar um círculo que não devia estar aberto. Foi como beber água fresca depois de quarenta dias no mar; como um jato de sangue no cérebro depois de um desmaio. Alívio, volta para casa, terra firme finalmente. Depois, o beijo tornou-se hipnótico, tirando a nós dois do chão, fazendo com que o resto do planeta deixasse de existir e fôssemos só lábios, línguas, e um ballet de nós dois flutuando no espaço... uma droga que faz a pele tornar-se elástica e infinita, cada toque ser multiplicado por mil, fazendo a pele ser a única vida possível.
O Jack afastou os lábios um pouco, segurou minha nuca, olhou nos meus olhos e me disse o que eu sentia:
- Saudade…
- Muita.
- Não vai mais embora…nunca mais fica longe…
E me abraçou como se soubesse o que estava dizendo.
Nós saímos dali e fomos para a casa dele. Assim que entramos, o celular tocou e ele atendeu.
- Oi… desculpa desculpa desculpa! Eu esqueci. Desculpa.
Era uma mulher no telefone, dava pra saber pelo timbre da voz.
- Eu fui comprar o vinho. Comprei e tudo, mas encontrei uma pessoa, nem peguei o vinho…e saí com ela…eu tô com ela aqui.
Ele me olhou sorrindo todo feliz, me pegou pela mão e me levou para a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma coca-cola, me mostrou, meio perguntando se eu queria, eu aceitei, ele colocou no balcão, pegou dois copos, encheu de gelo na porta da geladeira, abriu o refrigerante e dividiu nos dois copos.
- Não, você não vai acreditar, então nem vou contar.
Jack me entregou um dos copos, encostou no balcão ao meu lado com as pernas abertas, me puxou para a frente dele me encaixando entre elas e me abraçou, ainda falando no celular.
- Tá. Eu te conto e desligo: é a minha loira.
Eu escutei o grito dela do outro lado.
- DO SONHO?
- Do sonho…
- Como assim? Ela existe?
- Yep. E tá aqui comigo. Beijo tchau.
- Não! Me conta direito!
- Beijo tchau!!!
E desligou o telefone com o maior sorriso do mundo. Eu perguntei quem era e ele disse que era a irmã, que muitas vezes disse pra ele fazer terapia, porque estava obcecado por um fantasma.
Daquele sorriso lindo veio outro beijo, agora mais grave, quase que mais sofrido, prensado, engolido. Ele segurava as minhas costas me puxando para junto dele como se eu fosse fugir, usou as pernas para me prender, grudou em mim. Se afastou do balcão sem dizer nada e, ainda grudado me beijando, foi andando e me conduzindo. Quando eu quis me virar para ver onde pisava, ele me levantou no colo, colocou minhas pernas em volta do quadril dele e me levou para o quarto, nos jogou na cama, me olhou ofegante, tirando a camisa pela cabeça, me beijou outra vez falando dentro da minha boca:
- Deixa eu fazer de verdade o que eu fiz sonhando?
Claro que sim, lógico que sim, se ele prometesse que seria igual, mas eu não pediria uma coisa dessas, porque era difícil prever…De qualquer forma, nada que viesse do dono daquele beijo poderia ser diferente do que eu vi nos sonhos.
Eu fiz um "sim" com a cabeça, e senti o longo e aliviado suspiro que veio de dentro dele. Ele era meu. Não tinha como ser diferente. Assim que eu senti a mão dele levantando o meu vestido, subindo pela minha perna, tive mais certeza. O calor da palma, a pressão dos dedos, os movimentos perfeitos, delicados… As mãos eloquentes do Jack iam começar o seu mais belo discurso.
Se foi um raio que surgiu nas nossas mãos a primeira vez que se tocaram, uma tempestade magnética tomou conta de tudo quando ele entrou em mim. Foi lento, foi constante, foi mágico…Não sei se sei definir aquilo. Foi um respirar mais profundo do que o primeiro de todos, um nascimento, um dar à luz, foi romper a membrana invisível que separa as almas.
Depois de tudo, ficamos assim por um tempo que eu não sei contar…deitados de frente um para o outro, pernas trançadas, meu rosto colado no peito dele, os braços dele em volta de mim. Só o que se ouvia no silêncio mágico, eram as ondas quebrando na praia lá embaixo, e o entrar e sair lento, pausado, do ar dentro de nós.
- Mônica…
- Jack…
- Se eu disser uma coisa que tá engasgada aqui, você vai me achar maluco e fugir de mim?
- Se você continuar dizendo que eu posso fugir, vou.
Ele me abraçou mais forte.
- É que eu acho que eu...
- Fala.
- Não…não precisa.
- Eu sei...
- E você?
Eu me arrastei mais para cima, para olhar no olho dele.
- Mais do que eu sabia que podia.
Ele sorriu, me beijou e repetiu a minha frase:
- Muito mais do que eu sabia que podia…
Ali, na cama listrada pela luz que passava pela persiana de madeira, ficamos contemplando a imagem que por tanto tempo achamos que fosse só um delírio. Eu olhando pra ele, ele olhando para mim. Aos poucos, nossos olhos se renderam ao sono, foram ficando pesados, pesados, até se fecharem.
Pela primeira vez, em trezentos e noventa e nove dias, nenhum de nós precisou sonhar.
end of story
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