Contando os dedos
O rostinho dele ainda sujo na sala de parto ainda não saiu da minha cabeça. Eu lá, na minha cesária, esperando que algo acontecesse enquanto o Sena ganhava mais uma corrida e o Galvão - que já era chato naquela época - gritava feito uma gralha na TV...e ele chorou! Aquele chorinho já era ele, e o rosto encostado no meu, tinha olhos que durante muito tempo estaríam enfeitando a minha existência.
Depois de algumas horas, ele veio para o quarto e a primeira coisa que eu fiz foi olhar bem para cada detalhe dele. Abri a manta, tirei o tip-top, quis saber se tudo estava no lugar. De brincadeira, contei os dedinhos. "Ufa...dez nas mãos e 10 nos pés. Tudo sob controle!"
Quinta-feira, 11 de setembro, (já sexta) meia noite e quinze:
- Mãe, eu bati numa pedra na Marginal, não sei de onde ela veio, mas o carro não liga. Arrancou a tampa do carter, não anda de jeito nenhum.
Droga...a gente ia viajar de carro amanhã, mas ainda bem que ele não se machucou...liguei para o seguro, acionei o guincho e o telefone tocou de novo.
- Mãe, ta meio perigoso aqui. Mais quatro carros bateram na pedra...pede pra eles virem logo.
Desliguei a ligação para continuar falando com o seguro, passei o telefone dele para que a moça entrasse em contato, liguei pra ele outra vez...não atendeu. Liguei pro CET pra eles irem pra lá, Liguei de novo pro Di:
- (gritaria..) caralho!!!
Meu coração gelou. Meu cérebro tentou, por alguns poucos segundos, me convencer de que era só uma confusão porque algum outro carro bateu na pedra, mas meu coração não se engana: alguém estava com o celular do meu filho naquela hora, e todas as cenas que eu vi e pensei quase me fizeram morrer.
Impotência! Impotência! Não tem como explicar um filho em perigo. Não tem como explicar que ele esteja em algum lugar que você desconhece, sofrendo, e você não esteja lá para colocar um band-aid, dar um beijo e dizer que vai passar. Não tem como explicar o ódio súbito de quem pode ter colocado as mãos nele, por um segundo que seja. Cada minuto é uma eternidade, cada passo de um lado para o outro é um caminho gigantesco, cada frase da oração que você não sabe parar de repetir é um terço inteiro, uma novena inteira, uma vida inteira, uma promessa, um compromisso eterno com deus ou quem quiser por favor trazer meu filho de volta pra mim. Foi horrível...a maior violência que eu jamais senti. Violência contra a minha alma!
Liguei para a polícia. Não queria ouvir que levaram meu filho. Tive medo de ser tratada com descaso. Tive medo de tudo. O policial me acalmou dizendo que o meu chamado já havia sido atendido porque outras pessoas tinham ligado, e várias viaturas estavam no local. Sim, a pedra foi plantada lá. Sim, era coisa de assaltante.
Perguntei pelo meu filho, o policial perguntou se meu carro era um picasso azul e deu a placa certa. Eu disse que era preto, mas era esse, e ele me informou que já estavam rastreando o meu carro. Mas calma! O carro não liga! "Ah...Então fique tranquila que não levaram seu filho. Ele vai entrar em contato logo." Tranquila? Não existe essa hipótese. Tranquila e filho na mesma frase, num caso desses é, no mínimo, erro de concordância.
O tempo passou arrastado e torturante enquanto o Cláudio foi tentar encontrá-lo, o Marcelo saiu de casa e foi também, o motorista do Cláudio bateu record ao fazer Carapicuíba - Alphaville em doze minutos, e eu não sei quantos recordes de pensamento e esperança eu quebrei. Fiquei em casa esperando alguma notícia, até que o telefone tocou de um número estranho e era ele! Ah! música nos meus ouvidos:
- Oi mãe...ta tudo bem, viu? eu estou com a polícia.
Ai...que dor! Que vontade de me transformar num para-quedas gigante e cobrir o mundo inteiro num campo de força tão poderoso que pudesse deixar todo o mal do universo longe dos meus filhos! Fiquei mais tranquila. Mas horas mais tarde, quando ele entrou em casa, eu queria abraçar e beijar, e conferir. Levaram o que ele tinha: dois celulares, a carteira com cinco reais, todos os documentos e um chiclete. Enquanto um assaltante revistou o carro, o outro fez com que ele se ajoelhasse de costas e manteve a arma na cabeça dele. Depois de pegar o que queriam, mandaram o Diogo correr...ele correu até o carro da polícia que estava chegando na outra pista. End of story.
Tudo acabou bem, pelo menos por enquanto, que eu ainda não sei se ele está bem psicologicamente (eu não estou). Mas o que eu quero mesmo dizer, é que certas coisas não mudam com o tempo. Se eu pudesse, teria tirado a manta e o tip-top, conferido parte por parte para ver se tudo estava lá, depois eu o enrolava bem apertadinho e ficava pra sempre com ele no colo.
Quando ele chegou, eu só queria contar os dedos.
Not a little cake...
importante:
1. atéia que sou, na hora do vamovê eu rezo!
2. a polícia militar de São Paulo, ao contrário do que dizem na TV, é educada, eficiente, extremamemte gentil e eu só tenho a agradecer.
3. a polícia civil de São Paulo tem um serviço de informação no telefone 197 que rocks! E a Delegada Malta da polícia civil é fodona e manda em policial metido que não quer fazer B.O.
Depois de algumas horas, ele veio para o quarto e a primeira coisa que eu fiz foi olhar bem para cada detalhe dele. Abri a manta, tirei o tip-top, quis saber se tudo estava no lugar. De brincadeira, contei os dedinhos. "Ufa...dez nas mãos e 10 nos pés. Tudo sob controle!"
Quinta-feira, 11 de setembro, (já sexta) meia noite e quinze:
- Mãe, eu bati numa pedra na Marginal, não sei de onde ela veio, mas o carro não liga. Arrancou a tampa do carter, não anda de jeito nenhum.
Droga...a gente ia viajar de carro amanhã, mas ainda bem que ele não se machucou...liguei para o seguro, acionei o guincho e o telefone tocou de novo.
- Mãe, ta meio perigoso aqui. Mais quatro carros bateram na pedra...pede pra eles virem logo.
Desliguei a ligação para continuar falando com o seguro, passei o telefone dele para que a moça entrasse em contato, liguei pra ele outra vez...não atendeu. Liguei pro CET pra eles irem pra lá, Liguei de novo pro Di:
- (gritaria..) caralho!!!
Meu coração gelou. Meu cérebro tentou, por alguns poucos segundos, me convencer de que era só uma confusão porque algum outro carro bateu na pedra, mas meu coração não se engana: alguém estava com o celular do meu filho naquela hora, e todas as cenas que eu vi e pensei quase me fizeram morrer.
Impotência! Impotência! Não tem como explicar um filho em perigo. Não tem como explicar que ele esteja em algum lugar que você desconhece, sofrendo, e você não esteja lá para colocar um band-aid, dar um beijo e dizer que vai passar. Não tem como explicar o ódio súbito de quem pode ter colocado as mãos nele, por um segundo que seja. Cada minuto é uma eternidade, cada passo de um lado para o outro é um caminho gigantesco, cada frase da oração que você não sabe parar de repetir é um terço inteiro, uma novena inteira, uma vida inteira, uma promessa, um compromisso eterno com deus ou quem quiser por favor trazer meu filho de volta pra mim. Foi horrível...a maior violência que eu jamais senti. Violência contra a minha alma!
Liguei para a polícia. Não queria ouvir que levaram meu filho. Tive medo de ser tratada com descaso. Tive medo de tudo. O policial me acalmou dizendo que o meu chamado já havia sido atendido porque outras pessoas tinham ligado, e várias viaturas estavam no local. Sim, a pedra foi plantada lá. Sim, era coisa de assaltante.
Perguntei pelo meu filho, o policial perguntou se meu carro era um picasso azul e deu a placa certa. Eu disse que era preto, mas era esse, e ele me informou que já estavam rastreando o meu carro. Mas calma! O carro não liga! "Ah...Então fique tranquila que não levaram seu filho. Ele vai entrar em contato logo." Tranquila? Não existe essa hipótese. Tranquila e filho na mesma frase, num caso desses é, no mínimo, erro de concordância.
O tempo passou arrastado e torturante enquanto o Cláudio foi tentar encontrá-lo, o Marcelo saiu de casa e foi também, o motorista do Cláudio bateu record ao fazer Carapicuíba - Alphaville em doze minutos, e eu não sei quantos recordes de pensamento e esperança eu quebrei. Fiquei em casa esperando alguma notícia, até que o telefone tocou de um número estranho e era ele! Ah! música nos meus ouvidos:
- Oi mãe...ta tudo bem, viu? eu estou com a polícia.
Ai...que dor! Que vontade de me transformar num para-quedas gigante e cobrir o mundo inteiro num campo de força tão poderoso que pudesse deixar todo o mal do universo longe dos meus filhos! Fiquei mais tranquila. Mas horas mais tarde, quando ele entrou em casa, eu queria abraçar e beijar, e conferir. Levaram o que ele tinha: dois celulares, a carteira com cinco reais, todos os documentos e um chiclete. Enquanto um assaltante revistou o carro, o outro fez com que ele se ajoelhasse de costas e manteve a arma na cabeça dele. Depois de pegar o que queriam, mandaram o Diogo correr...ele correu até o carro da polícia que estava chegando na outra pista. End of story.
Tudo acabou bem, pelo menos por enquanto, que eu ainda não sei se ele está bem psicologicamente (eu não estou). Mas o que eu quero mesmo dizer, é que certas coisas não mudam com o tempo. Se eu pudesse, teria tirado a manta e o tip-top, conferido parte por parte para ver se tudo estava lá, depois eu o enrolava bem apertadinho e ficava pra sempre com ele no colo.
Quando ele chegou, eu só queria contar os dedos.
Not a little cake...
importante:
1. atéia que sou, na hora do vamovê eu rezo!
2. a polícia militar de São Paulo, ao contrário do que dizem na TV, é educada, eficiente, extremamemte gentil e eu só tenho a agradecer.
3. a polícia civil de São Paulo tem um serviço de informação no telefone 197 que rocks! E a Delegada Malta da polícia civil é fodona e manda em policial metido que não quer fazer B.O.
Marcadores: amordemãe, familia, my household, roubo
9 Comentários:
Lamentável...muito triste!!
Quando a violênica chega bem perto da gente, a raiva, o medo ficam insuportáveis!!
O importante é que ele está sem um arranhãozinho e vai ficar bem.
Beijooo
Ai Mer, o Diogo é abençoado (também não creio em nada e não rezo, mas uso essa palavra pra explicar que ele tem uma familia linda que o ama e é um cara fantástico que só merece o melhor) e acho que ser mãe é isso... amar a todo vapor, sem medir qualquer consequência...
Beijos para os dois.
Bem, eu acredito em Deus. E oro.
E graças a Ele eu nunca fui vítima de assalto, não esses à mão armada. Mas pude sentir através do teu relato uma sensação horrível, medo talvez; embora não tenha chegado nem próximo do que se sente numa hora dessa.
Que esteja tudo bem com vocês!
Beijos.
E eu continuo na saga de achar o meu amigo em algum lugar, alguma hora!
bjo bjo
"putaquepariu tudo junto!!!" como diz uma amiga minha. Li este post com o coração na mão...tava querendo chegar logo na hora em que ele estivesse bem e em casa...imagino o sofrimento, pois sofri aqui e agora. Beijo nos dois...e eu rezo, faço novena do Perpétuo Socorro e tudo...
eu só disse pra ele não me fazer mais isso pq eu encho ele de porrada. e de beijo depois.
Coisas de um povo subdesenvolvido etica e moralmente, que deixa a miseria se alastrar e devastar o sossego de todos. Por essas e outras, ainda prefiro meu refugio no velho e frio continente. Fiquei assustado com a historia, mas aliviado que no fim nada mais serio aconteceu. Havia uma pedra no meio do caminho, para mostrar-nos mais uma vez que pedras nao sao flores. Retiremos as pedras e plantemos jardins.
Nossa Met...Vc tinha me contado, ainda estava agoniada com este assalto e li agora o teu txto...
Veio tudo de novo...que horror...
Espero que nunca mais nenhum filho passe por estas coisas, fazendo as mães morrerem de desespero...
Beijossssssssssssss
Beijo no Di.
Pat
como vc escreve bem... to adorando
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