Até o msn minguar
Shhh....é madrugada.
Alguns dormem, outros não estão em casa. Só eu pareço existir nesse mar de silêncio onde o som mais forte vem das minhas unhas batendo nas letras do teclado.
Por incrível que pareça, o P é mais agudo que o U, mas o M é o campeão; não há nenhum pedaço de carne tocando o M, o C, a vígula e o V. Só minhas unhas vermelhas. Talvez por isso essas sejam sempre as primeiras letras a desaparecer. Daqui há dez mil anos, arqueólogos vão reconhecer os meus teclados por marcas de unha nas letras debaixo, e pela falta de quase todas as letras, fora os números, o Y e o W, que só estão gastas, mais ainda podem ser vistas.
Conforme a manhã se aproxima, eu vejo a lista do msn minguar, até que me vejo sozinha. Sim, eu me tenho no msn. (Você não? Louco!) No fim da madrugada estou acompanhada de no máximo duas pessoas da AOL, e mais nada.
De agora (meia noite e trinta e seis) até o msn minguar, os sons que não existem começam a se intesificar. Começa com o caminhão que varre a rua depois do lago - parece longe, mas quando ele passa, eu acho que vai lavar o meu quintal. Tem o vôo das três em ponto. Alguns pernilongos debaixo da mesa mordendo a minha perna e eu não sinto, só escuto. O motor da geladeira que me assusta às vezes. As capivaras no parque com aquele latido estranho. É, parece um latido, mas é gutural e forte. Às vezes um latido antecede o mergulho de uma delas no lago, e o tibum me faz rir. Tem os gambás (saruês) que fazem um escândalo quando descobrem casais cruzando; tem sempre platéia e uma gritaria. A impressão que dá é que pássaros gigantes, pterodátilos talvez, estão dando razante ali no muro dos fundos. Às vezes tem mesmo um pássaro retardatário, os cães da vizinhança, um gato se engraçando pra outro... Sim, os gatos...eu escuto as coleiras dos meus gatos quando eles andam no jardim, como se fosse a Sininho chegando.
O silêncio chega às vezes ao ponto que eu chamo de Discovery Channel. Uma madrugada dessas, só eu e o som das unhas no teclado, e vejo um vulto subindo a parede. Era uma lagartixa. Olhando melhor, eram duas - uma adulta e uma pequena. As duas tinham o mesmo objetivo: um mosquito distraído. Eu parei para ver qual delas ganharia o jantar... a grande estava bem perto do mosquito quando a pequena se aventurou numa corridinha meio gay. Violentamente, a adulta virou para ela, abriu a boca e, pra minha total surpresa, gritou! Santo lagarto, Batman! Lagartixa grita!! Claro que não é um super grito, mas é como se um jacaré tivesse encolhido e ficado meio sem voz. Eu morri de rir com a fuga a jato da lagartixa pequena, e com a minha cara de idiota ao constatar que animais silenciosos também sabem armar um barraco. É ou não é Discovery Channel?
Fora esses sons "Reino Animal", tem o rádio do segurança que passa com seu carrinho branco, jurando que não é ouvido. Ele passa muitas vezes até o msn minguar, e nunca desliga aquela coisa. Se alguém namora no carro antes de se despedir, duas ruas pra lá, eu escuto o baixo da música que toca no rádio. E tem o mané que faz cavalo de pau no fim da ladeira, -- lá depois do rio -- noite sim, noite não, ele brinca de me fazer desejar que o carro capote de uma vez pra ele parar com essa chatice.
As noites são parecidas. Fora a festa dos gambás, nada muda muito.
Chega sempre a hora que eu escuto o freio a disco do carro do entregador de jornal, o barulho do pacote batendo no chão da garagem, e sei que é o sinal para ir dormir. Apago cada uma das luzes que ficaram acesas, fecho a porta de vidro que faz um ganido dos infernos, entro no meu quarto com o maior cuidado para não acordar o meu marido... e quando coloco meu celular no dock pra carregar, ele faz um apito escandaloso astronômico que poderia acordar todo mundo num raio de vinte kilômetros. Mas não...sou só eu que me incomodo com ele. Todos dormem jurando que o mundo está em silêncio.
Buenas.
Alguns dormem, outros não estão em casa. Só eu pareço existir nesse mar de silêncio onde o som mais forte vem das minhas unhas batendo nas letras do teclado.
Por incrível que pareça, o P é mais agudo que o U, mas o M é o campeão; não há nenhum pedaço de carne tocando o M, o C, a vígula e o V. Só minhas unhas vermelhas. Talvez por isso essas sejam sempre as primeiras letras a desaparecer. Daqui há dez mil anos, arqueólogos vão reconhecer os meus teclados por marcas de unha nas letras debaixo, e pela falta de quase todas as letras, fora os números, o Y e o W, que só estão gastas, mais ainda podem ser vistas.
Conforme a manhã se aproxima, eu vejo a lista do msn minguar, até que me vejo sozinha. Sim, eu me tenho no msn. (Você não? Louco!) No fim da madrugada estou acompanhada de no máximo duas pessoas da AOL, e mais nada.
De agora (meia noite e trinta e seis) até o msn minguar, os sons que não existem começam a se intesificar. Começa com o caminhão que varre a rua depois do lago - parece longe, mas quando ele passa, eu acho que vai lavar o meu quintal. Tem o vôo das três em ponto. Alguns pernilongos debaixo da mesa mordendo a minha perna e eu não sinto, só escuto. O motor da geladeira que me assusta às vezes. As capivaras no parque com aquele latido estranho. É, parece um latido, mas é gutural e forte. Às vezes um latido antecede o mergulho de uma delas no lago, e o tibum me faz rir. Tem os gambás (saruês) que fazem um escândalo quando descobrem casais cruzando; tem sempre platéia e uma gritaria. A impressão que dá é que pássaros gigantes, pterodátilos talvez, estão dando razante ali no muro dos fundos. Às vezes tem mesmo um pássaro retardatário, os cães da vizinhança, um gato se engraçando pra outro... Sim, os gatos...eu escuto as coleiras dos meus gatos quando eles andam no jardim, como se fosse a Sininho chegando.
O silêncio chega às vezes ao ponto que eu chamo de Discovery Channel. Uma madrugada dessas, só eu e o som das unhas no teclado, e vejo um vulto subindo a parede. Era uma lagartixa. Olhando melhor, eram duas - uma adulta e uma pequena. As duas tinham o mesmo objetivo: um mosquito distraído. Eu parei para ver qual delas ganharia o jantar... a grande estava bem perto do mosquito quando a pequena se aventurou numa corridinha meio gay. Violentamente, a adulta virou para ela, abriu a boca e, pra minha total surpresa, gritou! Santo lagarto, Batman! Lagartixa grita!! Claro que não é um super grito, mas é como se um jacaré tivesse encolhido e ficado meio sem voz. Eu morri de rir com a fuga a jato da lagartixa pequena, e com a minha cara de idiota ao constatar que animais silenciosos também sabem armar um barraco. É ou não é Discovery Channel?
Fora esses sons "Reino Animal", tem o rádio do segurança que passa com seu carrinho branco, jurando que não é ouvido. Ele passa muitas vezes até o msn minguar, e nunca desliga aquela coisa. Se alguém namora no carro antes de se despedir, duas ruas pra lá, eu escuto o baixo da música que toca no rádio. E tem o mané que faz cavalo de pau no fim da ladeira, -- lá depois do rio -- noite sim, noite não, ele brinca de me fazer desejar que o carro capote de uma vez pra ele parar com essa chatice.
As noites são parecidas. Fora a festa dos gambás, nada muda muito.
Chega sempre a hora que eu escuto o freio a disco do carro do entregador de jornal, o barulho do pacote batendo no chão da garagem, e sei que é o sinal para ir dormir. Apago cada uma das luzes que ficaram acesas, fecho a porta de vidro que faz um ganido dos infernos, entro no meu quarto com o maior cuidado para não acordar o meu marido... e quando coloco meu celular no dock pra carregar, ele faz um apito escandaloso astronômico que poderia acordar todo mundo num raio de vinte kilômetros. Mas não...sou só eu que me incomodo com ele. Todos dormem jurando que o mundo está em silêncio.
Buenas.
6 Comentários:
Eu não consegui revisar este texto porque o Blogger não tava a fim. :(
Então...desculpem os erros.
Beijos
Me
Se as minhas madrugadas fossem animadinhas assim eu jamais preferiria dormir e perder o mergulho das capivaras, a festa dos gambás, o namorico dos gatos, a caça predatória das lagartixinhas. Claro que não!
Adorei conhecer seu lado insônia.
besos
fui parar aqui sem querer, daí achei interessante e comecei a ler...
Aproveitando, um breve comentario.
Achei muito interessante seu ponto de vista, sua inspiração...
Gostaria de poder conversar melhor com vc, sou compositor, escrevo e faço musica, quem sabe agente poderia trocar algumas idéias??
Meu email é: ricardomelobr@gmail.com
Mer, eu te acompanho nas madrugadas agora tá!? Nao todas é claro...
Beijos
mentirosa de meia tijela (ou tigela?! argh!!!)
kd vc ontem as 2 da manhã, hein?
humpft!
Ahhhh ontem eu dormi cedinho...uma e pouco!
hahaha! Pronto...agora eu tenho vigias.
hahahahha
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