Que não seja imortal, posto que é chama
Tudo na vida tem um fim - já dizia Sérgio Amon quando ainda me conhecia - menos a linguiça que tem dois.
E eu fico sentada aqui no meu troninho de observadora passiva da vida alheia, assistindo de camarote os fins inevitáveis de coisas impensáveis. São amizades de milênios, daquelas que você jura que as pessoas já nasceram grudadas, que estarão para sempre juntas, e de repente, bluft! It's over. Sociedades perfeitas tanto na vida pessoal quanto na profissional, que se desfazem sem muita explicação, sem muito dizer porque.
É como se, do nada, o fluído que os mantinha unidos perdesse a validade.
Eu tenho sempre medo da empolgação que uma amizade ou um amor envolvem. Sabe aqueles primeiros meses incríveis de achar semelhanças, experiências idênticas, gostos e manias? É como a lua de mel entre amigos. Nesta hora só se vê perfeição, e se tem aquela sensação maravilhosa de que quanto mais iguais, mais almas gêmeas seremos, contrariando todas as leis da física.
São os meses de espelho. Está no pacote: quanto mais parecido comigo você for, mais "pra sempre" eu vou te amar. Se fôssemos adolescentes, sairíamos escrevendo por aí "BFF" (best friends forever). Mas para saber se tudo isso funciona, basta freqüentar os álbuns adolescentes do Orkut. Eleja uma pessoa, corra para o álbum desta pessoa uma vez por semana durante três meses. Vai ser fácil saber quanto exatamente é "for ever".
É claro que será preciso manter as devidas proporções: somos adultos agora, então nada será tão passageiro quanto na adolescência. Já sabemos que as verdadeiras amizades são raras e levam anos para ser construídas. E é por isso que ainda nos supreendemos quando dois grandes amigos que dividiram a vida, aprovaram ou desaprovaram as namoradas do outro, participaram de todos os momentos, dividiram apartamento, bebida, prato de comida, carro; se separam.
Mas não entendo a surpresa, se existem famílias que se separam. O que falta para que estas duas pessoas consigam realmente viver juntas para sempre? Sexo? Não sei...existem esses casos também - amigos que acabam dividindo a cama e que um dia também se separam.
O grude é o problema e a solução. Grudar faz você se cansar rápido da pessoa errada. Grudar faz você esgotar de uma vez todas as ilusões e descobrir defeitos, o que acaba ajudando a avaliar se você é capaz de suportar aquela pessoa para o resto da vida. Depois disso vem o aceitar. Depois o relevar. E por aí vai até o tal do "pra sempre".
O fato é que o fim, qualquer fim, não deveria nos surpreender, já que somos adultos e sabemos que "para sempre" não existe. Eu ouvi muita gente criticando a frase final deste poema do Vinícius, quando ele diz "que seja infinito enquanto dure".
- Então o amor é descartável?
- Então você entra num relacionamento esperando que ele acabe?
Não! Esperando não. Mas coisas acabam. A vida tem um ciclo. Se um amor ou uma amizade começam é porque um dia acabarão, senão com uma briga, com a morte. Todo grande sentimento acaba fatalmente em lágrimas, e não é por isso que vamos deixar de vivê-lo ou prezar por ele. "Para sempre" é uma visão egoísta e escapista, uma negação inconsciênte da morte. Quem é você, cara pálida, para achar que PARA SEMPRE é enquanto VOCÊ viver?
A vida na terra teve início em 24 de setembro de 1961 e se extinguirá no dia da minha morte?
Não seja assim...considere pelo menos o dia do nascimento do Thomas Edison e do Bill Gates, já que você não seria nada sem eletricidade e o seu computador!
Para sempre é para sempre - milhões de anos, vários séculos, muitos milênios...e pouca coisa dura tudo isso. Mas você pode deixar uma obra ou um grande feito que não supra apenas as necessidades momentâneas da população - como criar o Google, por exemplo. Não! Precisa ser muito infinitamente maior do que o Google para que dure mais um aquecimento global, mais uma era glacial...sim, porque ISSO é para sempre ou nem isso.
Mas se isso for grande demais para você, o negócio é viver sua vida num pra sempre diário. Tipo "a vida é hoje". Eu ganhei uma caixa de fósforos com um palito só. Nele estava escrito "agora". É isso. Agora é já, e acaba rápido. Pra sempre é já, e acaba rápido. Você acaba rápido se comparado à existência do planeta.
Então que mal há em achar que tudo é infinito enquanto durar? Até o planeta está acabando...Ele é gigantesco para nós e ínfimo se comparado ao universo. Dá para se tirar uma grande lição daí: a vida é gigantesca para nós, e ínfima se comparada ao tempo como um todo. O que fazer então? Abandonamos o planeta já que um dia ele vai acabar? Abandonamos a vida já que vamos morrer? Saímos matando e fazendo tudo de errado, já que talvez não haja céu e inferno e a vida eterna seja uma farsa? Nah!! Vivemos. Vivemos agora e hoje, e mais uns dias, só para garantir uma continuidade do que fazemos aqui. E enchemos esses dias de significados e momentos fortes, bonitos bons, considerando e reconhecendo que há um fim para tudo. O fim não é a desgraça de tudo. Ele é o motivo para que a gente risque este fósforo e aproveite os segundos de luz que vêm dele. É o que temos. Prezemos!
E mais...
E eu fico sentada aqui no meu troninho de observadora passiva da vida alheia, assistindo de camarote os fins inevitáveis de coisas impensáveis. São amizades de milênios, daquelas que você jura que as pessoas já nasceram grudadas, que estarão para sempre juntas, e de repente, bluft! It's over. Sociedades perfeitas tanto na vida pessoal quanto na profissional, que se desfazem sem muita explicação, sem muito dizer porque.
É como se, do nada, o fluído que os mantinha unidos perdesse a validade.
Eu tenho sempre medo da empolgação que uma amizade ou um amor envolvem. Sabe aqueles primeiros meses incríveis de achar semelhanças, experiências idênticas, gostos e manias? É como a lua de mel entre amigos. Nesta hora só se vê perfeição, e se tem aquela sensação maravilhosa de que quanto mais iguais, mais almas gêmeas seremos, contrariando todas as leis da física.
São os meses de espelho. Está no pacote: quanto mais parecido comigo você for, mais "pra sempre" eu vou te amar. Se fôssemos adolescentes, sairíamos escrevendo por aí "BFF" (best friends forever). Mas para saber se tudo isso funciona, basta freqüentar os álbuns adolescentes do Orkut. Eleja uma pessoa, corra para o álbum desta pessoa uma vez por semana durante três meses. Vai ser fácil saber quanto exatamente é "for ever".
É claro que será preciso manter as devidas proporções: somos adultos agora, então nada será tão passageiro quanto na adolescência. Já sabemos que as verdadeiras amizades são raras e levam anos para ser construídas. E é por isso que ainda nos supreendemos quando dois grandes amigos que dividiram a vida, aprovaram ou desaprovaram as namoradas do outro, participaram de todos os momentos, dividiram apartamento, bebida, prato de comida, carro; se separam.
Mas não entendo a surpresa, se existem famílias que se separam. O que falta para que estas duas pessoas consigam realmente viver juntas para sempre? Sexo? Não sei...existem esses casos também - amigos que acabam dividindo a cama e que um dia também se separam.
O grude é o problema e a solução. Grudar faz você se cansar rápido da pessoa errada. Grudar faz você esgotar de uma vez todas as ilusões e descobrir defeitos, o que acaba ajudando a avaliar se você é capaz de suportar aquela pessoa para o resto da vida. Depois disso vem o aceitar. Depois o relevar. E por aí vai até o tal do "pra sempre".
O fato é que o fim, qualquer fim, não deveria nos surpreender, já que somos adultos e sabemos que "para sempre" não existe. Eu ouvi muita gente criticando a frase final deste poema do Vinícius, quando ele diz "que seja infinito enquanto dure".
- Então o amor é descartável?
- Então você entra num relacionamento esperando que ele acabe?
Não! Esperando não. Mas coisas acabam. A vida tem um ciclo. Se um amor ou uma amizade começam é porque um dia acabarão, senão com uma briga, com a morte. Todo grande sentimento acaba fatalmente em lágrimas, e não é por isso que vamos deixar de vivê-lo ou prezar por ele. "Para sempre" é uma visão egoísta e escapista, uma negação inconsciênte da morte. Quem é você, cara pálida, para achar que PARA SEMPRE é enquanto VOCÊ viver?
A vida na terra teve início em 24 de setembro de 1961 e se extinguirá no dia da minha morte?
Não seja assim...considere pelo menos o dia do nascimento do Thomas Edison e do Bill Gates, já que você não seria nada sem eletricidade e o seu computador!
Para sempre é para sempre - milhões de anos, vários séculos, muitos milênios...e pouca coisa dura tudo isso. Mas você pode deixar uma obra ou um grande feito que não supra apenas as necessidades momentâneas da população - como criar o Google, por exemplo. Não! Precisa ser muito infinitamente maior do que o Google para que dure mais um aquecimento global, mais uma era glacial...sim, porque ISSO é para sempre ou nem isso.
Mas se isso for grande demais para você, o negócio é viver sua vida num pra sempre diário. Tipo "a vida é hoje". Eu ganhei uma caixa de fósforos com um palito só. Nele estava escrito "agora". É isso. Agora é já, e acaba rápido. Pra sempre é já, e acaba rápido. Você acaba rápido se comparado à existência do planeta.
Então que mal há em achar que tudo é infinito enquanto durar? Até o planeta está acabando...Ele é gigantesco para nós e ínfimo se comparado ao universo. Dá para se tirar uma grande lição daí: a vida é gigantesca para nós, e ínfima se comparada ao tempo como um todo. O que fazer então? Abandonamos o planeta já que um dia ele vai acabar? Abandonamos a vida já que vamos morrer? Saímos matando e fazendo tudo de errado, já que talvez não haja céu e inferno e a vida eterna seja uma farsa? Nah!! Vivemos. Vivemos agora e hoje, e mais uns dias, só para garantir uma continuidade do que fazemos aqui. E enchemos esses dias de significados e momentos fortes, bonitos bons, considerando e reconhecendo que há um fim para tudo. O fim não é a desgraça de tudo. Ele é o motivo para que a gente risque este fósforo e aproveite os segundos de luz que vêm dele. É o que temos. Prezemos!
E mais...
...que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.
9 Comentários:
Como diria Negritude Jr:
"Que seja eterno enquanto dure esse amor, que dure pare seeeeeeempre"
negritude juuuuunioooooooor?
Este seu filho...
Para sempre cansa!
Digo e repito.
Adorei, pra variar!
Bj
Olá, Mercedes. Tudo bem? Encontrei seu blog por acaso (se é que ele existe). Na verdade entrei no Google e digitei Exclam+Leminski e tava lá o caixa preta, com seus textos bem escritos, inteligentes e cheios de histórias deliciosas (principalmente sobre propaganda). Gostei muito e já virei seu leitor.
Um abraço, Leandro Fagundes.
Paraná - Curitiba - Exclam
Oi Mê!
Nunca... pra sempre...pra que, né?
O hoje é muito melhor!!
Arranjou mais um fã, heim? bj Pati
Amén!
P.S.: Esse seu filho morreu é?
Sim, o Diogo morreu em vida!
SUMIU
Enfim
Essa empolgação inicial é uma delicia mesmo. Vc acompanhou a minha no meu último relacionamento. E quer saber? Me jogo de cabeça mesmo, não to nem aí. Prefiro cuidar de um coração partido do que não ter vivido todas as coisas maravilhosas que vivi enquanto ainda era eterno.
É... realmente temos o vício ridículo de fantasiar a vida com essa história do "sempre". Nos evadimos da realidade(às vezes cruel) como se não tivéssemos de encarar o fim de relacionamentos adoráveis e bons momentos...
... Fazer o que né? O dia é hoje, o momento é já, a hora é agora: Ontem passou. Amanhã não chegou. E o nosso PRESENTE é hoje!
Ps.: Adorei aquela parte: "O grude é o problema e a solução." Nos faz acordar dos meses de "espelho" e cair na real já que amizade verdadeira está acima de meras semelhanças.
Deixa eu chover no molhado: Ótimo texto!
Adorei seu texto, muito bem escrito, parabéns!
Postar um comentário
Links para esta postagem:
Criar um link
<< Início