Talking with Angels...
Não é novidade para ninguém que quando eu era pequena, queria ser miss Brasil. Muitas e muitas vezes eu já repeti aqui minhas ambições infantis: miss, chacrete, cantora, atriz, bonita, estrangeira.
Mais tarde, eu quis ser menos bonita. Quis ser inteligente. Depois, tão inteligente que fosse a melhor profissional que tivesse passado por cada lugar por onde eu escolhesse passar.
Lá pelos 18 anos, veio o convite para ser miss. U-huu! Mas nessa época o importante era ser menos gostosona e bem mais brilhante. Era preciso ler muito, aprender muito, trabalhar muito, parecer brilhante, convencer a mim mesma que existia um cérebro bem maior do que o corpo acima dele todo.
Mas eu sorri feliz, afinal, mesmo não aceitando o convite, ele veio -- o que não deixa de ser uma forma de realizar um sonho de infância. Foi também nesta época que veio o primeiro emprego em publicidade…e eu comecei a realizar o outro sonho.
E assim a vida passou me mimando...
Eu fui conquistando cada um dos meus pequenos sonhos que nem sempre eram embalados por uma razão lógica. A maioria deles era mesmo por teimosia ou pura necessidade.
Depois, mais tarde, eu só quis mesmo ser feliz.
E é sobre isso que eu quero falar. Sobre como eu fui sempre tão mimada. Tenho até medo de contar.
Eu nasci numa família bem de vida, constituída por um casal trabalhador que veio de baixo, com exemplos de pais lutadores.
Quando eu nasci meu pai era um bem sucedido homem de seguros. Não sei direito na verdade, porque ordem cronológica é uma coisa misteriosa demais pra mim. Praticamente não existe. Eu embaralho fatos e datas e nunca sei direito o que veio antes. O fato é que lembro de morar numa casa enorme no Jardim Botânico, o que fazia do meu pai um milionário aos meus olhos infantis. Nem sei se a casa era realmente grande, mas assim o parecia. Um dia, nosso mundo caiu. Tudo caiu. A casa se foi e nós começamos a nos mudar muito, muitas vezes, de um lugar grande para um menor, depois um menor, depois para a casa de alguém. Demorou para que voltassemos a estar todos juntos sob o mesmo teto -- ou foi o meu coração de criança que nunca entendeu a distância. O fato é que pareceu ser para sempre até que voltamos para Curitiba e, da casa de alguém, nos mudamos para um teto onde acordávamos todos os dias com a voz forte da minha mãe. Ufa!
Voltar a sentir o nosso cheiro e ver de volta as nossas coisas, foi como realizar um primeiro sonho de infância. Assim, mesmo meus pais se sacrificando e sofrendo um tanto, eu senti pela primeira vez a mão da vida a me mimar.
Quando me senti estável, meus sonhos mudaram um pouco. Mas nunca foram grandes. De qualquer maneira eu sonhei sempre com uma vida que mudasse muito mas não mudasse nada. Eu queria que o mundo fosse a minha casa mas, ao mesmo tempo, que um dia eu olhasse à minha volta e me sentisse como na casa da minha mãe: que meus filhos fossem como os dela, que meu marido fosse como o dela, que eu acordasse todos os dias segura de que todos os dedos da mão estavam no mesmo lugar. Não os anéis, porque com esses eu nunca sonhei.
Mas, apesar de não sonhar com anéis, eu tive sempre pose de quem os tinha aos montes. Esta pose me salvou a vida milhares de vezes, outras atrapalhou um pouquinho. Mas graças a ela, que nasceu comigo, eu tive sempre portas abertas onde quer que fosse. Porque, I’m so sorry, vivemos sim num mudo de aparências em que elas regem os olhos dos poderosos num primeiro momento. Graças a minha pose e minha maneira de falar, eu tive todos os empregos que quis.
Mas eu não me importava realmente com isso. E nem nunca quis grandes coisas - nem roupas, nem jóias, nem dinheiro, posição, nada. Eu quis dignidade. Eu quis reconhecimento pelo meu trabalho. E mais do que tudo, eu quis ser feliz.
A minha pose gerou uma frase que me magoou amargamente vinda de um colega de trabalho – na época diretor de comerciais – que me disse um dia:
“ Mercedes, o seu problema é que você anda na Avenida Batel como se estivesse na Quinta Avenina.”
Wow! No momento em que eu escutei aquilo, fiquei muito triste. Logicamente ele se referia ao fato de eu não ter um tostão, mas andar com o queixo no lugar e os ombros eretos. Eu nunca tive medo de trabalho, sabe? Nem de recomeçar. Aliás…recomeçar é sempre mais gostoso do que simplesmente estar. Ter que trabalhar muito para sustentar meu filho, andar a pé, não poder gastar, nada disso jamais me assustou. Ao contrário. Eu andava a pé pela avenida Batel para o trabalho feliz e sonhando. Acho até que parecia que eu estava na Quinta Avenida...hahah!
Confesso que meus momentos de necessidade extrema passaram batido e eu mal me lembro deles. E porque? Porque veio a vida me mimar. Sempre! Sempre que uma porta se fechava muitas se abriam em seguida. Sempre que tudo parecia ruir, o sol brilhava la fora com uma nova oportunidade. Por isso nunca…nunca mesmo, eu valorizei demais um momento ruim. E a vida me deu amigos. Hoje, a gente lembra desses momentos rindo dos nossos jantares falidos, e dos fins de semana de programação alternativa.
Eu nunca fui ambiciosa, mas querer conhecer o mundo não é ambição, é necessidade. Nasceu comigo. Os livros de história, as enciclopédias, os livros de fotos…todos eles me mostravam lugares que eu tinha que ver.
Andar pela Quinta Avenida era um dos meus sonhos bobos sim. E pela beira do Sena. E pelo bairro Gótico em Barcelona. E pela boardwalk em Venice Beach. E pelos corredores do Louvre. Eram sonhos distantes aos 18, mas muito reais aos 26. Minha vontade de ir embora para algum lugar ver as coisas que passei a vida estudando era quase maior do que eu. Eu tinha um filho pequeno e não podia , mas as propostas chegavam. Quase fui para Portugal, mas não era isso ainda…e eu fui ficando por aqui por causa de um trabalho melhor e outro mais desafiador e outro mais compensador…E a vida voltou a me mimar todas as vezes que eu achei que meu mundo cairia.
Semana retrasada, caminhando na beira do Rio Sena, meu marido disse que eu devia ver o meu sorriso! Nessa hora eu percebi que não sou só eu quem vê a mão da vida pincelando a minha existência. Meu sorriso era de uma alegria que eu não sei contar. Só minha…interna…lá dentro…que se externou em forma de um sorriso que eu não pude tirar do rosto por muitos dias. Eu estava lá…depois de andar pela Quinta Avenida me sentindo tão em casa quanto na Avenida Batel, correr na boardwalk em Venice como se estivesse no Parque Barigui, sentar num café em Barcelona e ver as pessoas passando, eu estava andando na beira do Sena, tomando um sorvete, e me sentindo feliz, como nos tempos de criança. Porque como eu sempre sonhei, todo lugar do mundo é a minha casa.
A vida me tocou quando pisei nas ruínas de Roma…e sorriu pra mim pra me dizer: tá vendo?…você que só sonhava, está aí, ganhando mais um presente.
Pra muita gente, a viagem que eu fiz é nada. Tanta gente vai para a Europa todos os anos…tanta gente vai a Paris tantas vezes…Mas a primeira vez que eu sonhei com Paris eu ainda nem usava sutiã. A primeira vez que fiquei maravilhada estudando história da arte, eu não tinha um metro e meio. Poder ver ao vivo as coisas que eu vi, pode ser chato para muita gente, ou simplesmente desimportante. Mas não para mim. E eu agradeço a isso de tantas formas…
Então hoje, mexendo nas fotos, eu parei para pensar no que são os sonhos e cheguei à conclusão que todas as vezes que sonhei acordada, todas as vezes que falei sozinha, todas as vezes que travei longos diálogos imaginários andando na rua…todas as vezes, eu estava falando com anjos. E sempre, invariavelmente, eu fui ouvida.
Bom dia, flores do dia!
Mais tarde, eu quis ser menos bonita. Quis ser inteligente. Depois, tão inteligente que fosse a melhor profissional que tivesse passado por cada lugar por onde eu escolhesse passar.
Lá pelos 18 anos, veio o convite para ser miss. U-huu! Mas nessa época o importante era ser menos gostosona e bem mais brilhante. Era preciso ler muito, aprender muito, trabalhar muito, parecer brilhante, convencer a mim mesma que existia um cérebro bem maior do que o corpo acima dele todo.
Mas eu sorri feliz, afinal, mesmo não aceitando o convite, ele veio -- o que não deixa de ser uma forma de realizar um sonho de infância. Foi também nesta época que veio o primeiro emprego em publicidade…e eu comecei a realizar o outro sonho.
E assim a vida passou me mimando...
Eu fui conquistando cada um dos meus pequenos sonhos que nem sempre eram embalados por uma razão lógica. A maioria deles era mesmo por teimosia ou pura necessidade.
Depois, mais tarde, eu só quis mesmo ser feliz.
E é sobre isso que eu quero falar. Sobre como eu fui sempre tão mimada. Tenho até medo de contar.
Eu nasci numa família bem de vida, constituída por um casal trabalhador que veio de baixo, com exemplos de pais lutadores.
Quando eu nasci meu pai era um bem sucedido homem de seguros. Não sei direito na verdade, porque ordem cronológica é uma coisa misteriosa demais pra mim. Praticamente não existe. Eu embaralho fatos e datas e nunca sei direito o que veio antes. O fato é que lembro de morar numa casa enorme no Jardim Botânico, o que fazia do meu pai um milionário aos meus olhos infantis. Nem sei se a casa era realmente grande, mas assim o parecia. Um dia, nosso mundo caiu. Tudo caiu. A casa se foi e nós começamos a nos mudar muito, muitas vezes, de um lugar grande para um menor, depois um menor, depois para a casa de alguém. Demorou para que voltassemos a estar todos juntos sob o mesmo teto -- ou foi o meu coração de criança que nunca entendeu a distância. O fato é que pareceu ser para sempre até que voltamos para Curitiba e, da casa de alguém, nos mudamos para um teto onde acordávamos todos os dias com a voz forte da minha mãe. Ufa!
Voltar a sentir o nosso cheiro e ver de volta as nossas coisas, foi como realizar um primeiro sonho de infância. Assim, mesmo meus pais se sacrificando e sofrendo um tanto, eu senti pela primeira vez a mão da vida a me mimar.
Quando me senti estável, meus sonhos mudaram um pouco. Mas nunca foram grandes. De qualquer maneira eu sonhei sempre com uma vida que mudasse muito mas não mudasse nada. Eu queria que o mundo fosse a minha casa mas, ao mesmo tempo, que um dia eu olhasse à minha volta e me sentisse como na casa da minha mãe: que meus filhos fossem como os dela, que meu marido fosse como o dela, que eu acordasse todos os dias segura de que todos os dedos da mão estavam no mesmo lugar. Não os anéis, porque com esses eu nunca sonhei.
Mas, apesar de não sonhar com anéis, eu tive sempre pose de quem os tinha aos montes. Esta pose me salvou a vida milhares de vezes, outras atrapalhou um pouquinho. Mas graças a ela, que nasceu comigo, eu tive sempre portas abertas onde quer que fosse. Porque, I’m so sorry, vivemos sim num mudo de aparências em que elas regem os olhos dos poderosos num primeiro momento. Graças a minha pose e minha maneira de falar, eu tive todos os empregos que quis.
Mas eu não me importava realmente com isso. E nem nunca quis grandes coisas - nem roupas, nem jóias, nem dinheiro, posição, nada. Eu quis dignidade. Eu quis reconhecimento pelo meu trabalho. E mais do que tudo, eu quis ser feliz.
A minha pose gerou uma frase que me magoou amargamente vinda de um colega de trabalho – na época diretor de comerciais – que me disse um dia:
“ Mercedes, o seu problema é que você anda na Avenida Batel como se estivesse na Quinta Avenina.”
Wow! No momento em que eu escutei aquilo, fiquei muito triste. Logicamente ele se referia ao fato de eu não ter um tostão, mas andar com o queixo no lugar e os ombros eretos. Eu nunca tive medo de trabalho, sabe? Nem de recomeçar. Aliás…recomeçar é sempre mais gostoso do que simplesmente estar. Ter que trabalhar muito para sustentar meu filho, andar a pé, não poder gastar, nada disso jamais me assustou. Ao contrário. Eu andava a pé pela avenida Batel para o trabalho feliz e sonhando. Acho até que parecia que eu estava na Quinta Avenida...hahah!
Confesso que meus momentos de necessidade extrema passaram batido e eu mal me lembro deles. E porque? Porque veio a vida me mimar. Sempre! Sempre que uma porta se fechava muitas se abriam em seguida. Sempre que tudo parecia ruir, o sol brilhava la fora com uma nova oportunidade. Por isso nunca…nunca mesmo, eu valorizei demais um momento ruim. E a vida me deu amigos. Hoje, a gente lembra desses momentos rindo dos nossos jantares falidos, e dos fins de semana de programação alternativa.
Eu nunca fui ambiciosa, mas querer conhecer o mundo não é ambição, é necessidade. Nasceu comigo. Os livros de história, as enciclopédias, os livros de fotos…todos eles me mostravam lugares que eu tinha que ver.
Andar pela Quinta Avenida era um dos meus sonhos bobos sim. E pela beira do Sena. E pelo bairro Gótico em Barcelona. E pela boardwalk em Venice Beach. E pelos corredores do Louvre. Eram sonhos distantes aos 18, mas muito reais aos 26. Minha vontade de ir embora para algum lugar ver as coisas que passei a vida estudando era quase maior do que eu. Eu tinha um filho pequeno e não podia , mas as propostas chegavam. Quase fui para Portugal, mas não era isso ainda…e eu fui ficando por aqui por causa de um trabalho melhor e outro mais desafiador e outro mais compensador…E a vida voltou a me mimar todas as vezes que eu achei que meu mundo cairia.
Depois a vida mudou. Para melhor. Eu custei a entender para onde ela estava me levando, até tentei fugir dela, quase me afundei completamente, mas lá veio a vida outra vez passar a mão na minha cabeça. Cinco minutos antes de eu entrar para sempre num buraco negro, ela me resgatou. E me mimou de novo.
Semana retrasada, caminhando na beira do Rio Sena, meu marido disse que eu devia ver o meu sorriso! Nessa hora eu percebi que não sou só eu quem vê a mão da vida pincelando a minha existência. Meu sorriso era de uma alegria que eu não sei contar. Só minha…interna…lá dentro…que se externou em forma de um sorriso que eu não pude tirar do rosto por muitos dias. Eu estava lá…depois de andar pela Quinta Avenida me sentindo tão em casa quanto na Avenida Batel, correr na boardwalk em Venice como se estivesse no Parque Barigui, sentar num café em Barcelona e ver as pessoas passando, eu estava andando na beira do Sena, tomando um sorvete, e me sentindo feliz, como nos tempos de criança. Porque como eu sempre sonhei, todo lugar do mundo é a minha casa.
A vida me tocou quando pisei nas ruínas de Roma…e sorriu pra mim pra me dizer: tá vendo?…você que só sonhava, está aí, ganhando mais um presente.
Pra muita gente, a viagem que eu fiz é nada. Tanta gente vai para a Europa todos os anos…tanta gente vai a Paris tantas vezes…Mas a primeira vez que eu sonhei com Paris eu ainda nem usava sutiã. A primeira vez que fiquei maravilhada estudando história da arte, eu não tinha um metro e meio. Poder ver ao vivo as coisas que eu vi, pode ser chato para muita gente, ou simplesmente desimportante. Mas não para mim. E eu agradeço a isso de tantas formas…
Então hoje, mexendo nas fotos, eu parei para pensar no que são os sonhos e cheguei à conclusão que todas as vezes que sonhei acordada, todas as vezes que falei sozinha, todas as vezes que travei longos diálogos imaginários andando na rua…todas as vezes, eu estava falando com anjos. E sempre, invariavelmente, eu fui ouvida.
Bom dia, flores do dia!
8 Comentários:
Ai que coisa linda isso aqui...
Me arrepiei toda...
Falando com anjos ou com você mesma, tudo sempre conspirou ao seu favor porque é como VOCE mesma já me disse, as coisas só vem pra quem MERECE.
Te amo muito Mer...ci!
Besitos da sua amiga esquizô!
Eita Mê...
eu sei que é meio repetitivo falar em arrepio...mas o que que eu posso fazer? Eu me arrepio mesmo...
Assim como eu, Mê, vc tem um dom, que poucos possuem: a capacidade de tranformar (com o perdão da palavra) "bosta" em adubo! Só qdo se sabe fazer essa tranformação, é que a vida vale a pena!!
Seja bem vinda! ...Acho que nos cruzamos la por cima, qdo vc tava indo, eu tava voltando
Pat,
Transformar bosta em adubo não só é obrigação como tá na moda e é politicamente correto! hahahha!
Pode ser isso sim, não sei. Mas acho que nenhuma de nós pode reclamar da vida, mesmo podendo. Você até pode mais do que eu, porque passou por coisas pesadézimas que eu nunca passei. Mas de qualquer maneira, a vida sorriu pra gente de várias formas.
Nunca nos faltou amor, nem pra dar nem pra receber. Nunca nos faltou amigo. Nunca nos faltaram pessoas em quem pudéssemos nos apoiar...nem cores diversas para nos encher de alegria. Mesmo alegrias baratas, banais, que muita gente nem entenderia.
Usar duas meias-calças, cada uma com uma perna rasgada e uma boa, com as rasgadas amarradas na cintura é transformar bosta em adubo? Então a gente sabe fazer isso sim! hahahah!
Quem mais tem uma lembrança como essa?
Life is good!
Beijoca
Ahahahah! Que bom que vc me relembra essas coisas!! Nós somos, sim, phd em transformação...quase um Mister M. bj pati
Bom blog. Divertido!
Mety eu so sei de uma coisa.
Nunca devemos parar de sonhar pois sem isso a vida nâo tem graça,ela perde o sentido.E você merece tudo de bom mesmo.
Beijos amiga!!!
Mery!
Bosta em adubo...limão em limonada...feio em belo...ai ai como é bom esse poder de transformação!!!
Beijooo
Tava doida pra entrar aqui e ler algo sobre a viagem!
Mas não imaginava um texto assim tão gostoso.
Delícia!!!!!
Cada vez mais a vida me prova que não podemos desacreditar: nunca!
Saudades...
bj
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