Delírio - Parte 6
Felipe Iubel
A defesa apaixonada do Mestre deixara o Barún com apenas um olho, mas, ainda assim, cego. A fúria controlava a retina que escapara ilesa. Seu lado selvagem mostrava-se fora do controle. Vingança. O ódio que a besta sentia da luz tornava-a ainda mais perigosa. Então, as vítimas começaram a aparecer.
Partidei. As belas árvores amanheceram despedaçadas. A população de Delírio escandalizada, procurava uma explicação. Só Drímer e o próprio Mestre sabiam que o amor causara tamanho desastre.
Mais alguns dias passaram. O cinza aumentava. Não havia explicações, exceto nos sussurros proibidos. A escuridão crescia em vários pontos. Havia mais de uma só fonte de perigo. O Mestre estranhamente se recolheu para a mais longa meditação que o Templo dos Mestres presenciara. Ele pode ouvir as vozes dos Senhores do Passado. Alguns o condenavam.
- Tu rompeste com o juramento secreto de manter teu povo longe das dores e sofrimentos decorrentes do sentimento incontrolável!
- Tu desonraste teu templo e teu povo!
- Tu traíste a confiança depositada em ti pelas luzes!
Outros o questionavam com veemência.
- Aonde tu acreditas que tal sentimento conduzirá a ti e a teu povo?
- Não julgas que chegou a hora de escolhermos um novo mestre?
A resposta direta e firme dele, o atual Mestre e Senhor da Ilha de Delírio, silenciava e despertava a reflexão de seus antepassados.
- Eu sou o Senhor de Todas as Luzes, assim como Senhor de minha própria vida e de meus sentimentos. Não deixarei que nada destrua meu Povo. E, sim, o destino me permitiu amar. E, sim, amarei com a intensidade de minha luz. Sei que Vós me julgais por tal decisão. Porém, tal sentimento agrega mais vida e mais luzes para meu povo. Minhas forças e meu conhecimento alcançam hoje níveis que jamais poderão ser questionados por nenhum de Vós. Portanto, não sereis Vós, com a proteção da paz de um passado distante, que me convencereis dos benefícios de reprimir tal amor. O momento exige que as novas luzes sejam reveladas e apenas com tais luzes e com tais sentimentos a ameaça será para toda eternidade banida e a paz verdadeira - até hoje apenas sonhada - reinará em Delírio. Paz feita de luzes de amarelo e vermelho. De paixão e de amor. É assim que eu, o Mestre Desses Tempos de Cinza, agirei. Venho ao templo buscando conselhos sábios e auxílio generoso.
- Então... podeis Vós, Mestres e Senhores do Passado, oferecer-me o que busco? Estender-nos-eis a mão nesse momento que mistura o amor com as dificuldades?
O Mestre permanecia no Templo, quando a primeira luz se apagou. Um luz violeta se perdeu num dos pontos de cinzas que se espalhavam pela mata. Luz iluminada de criança inocente. Sempre distante e alheia aos confusos sonhos proibidos. Desconhecedora pueril dos três pecados. Lágrimas. A primeira grande perda. Dias passavam.
- O Barún furioso espalha o terror. Não posso mais esperar por vosso conselho. Hoje abandono o Templo, com ou sem a ajuda de Vós que sois meus antepassados, meus guias e meus mentores. Lamento não corresponder às expectativas de sentimentos contidos. Viro as costas tão decepcionado quanto vós. O Barún já não é só um. Várias são as feras de um só olho repleto de fúria cega, espalhando a morte pelas luzes de meu povo, de nosso povo. Minha luz turquesa não será suficiente nessa guerra.
Seus passos decididos. Suas mãos tocaram as portas. Lágrimas molharam suas vestes.
- Espera!
O mais antigo dos Mestres e Senhores materializou-se e tocou-o no ombro.
- Muitas são as eras que atravessamos. Muitas foram as dificuldades que enfrentamos. Porém, nunca O Povo das Luzes teve um Mestre tão sábio como tu, Rygan Brëiver. O teu amor por aquela jovem se estende a todo teu povo. Um amor incondicional. Um amor idealista e apaixonado que realmente não conhecemos e por isso tanto tememos. Ainda assim, muitas são nossas lendas. Muitas são as nossas verdades nunca ditas. E, num tempo passado em que o amor e a destruição também caminharam unidos, um Mestre e Senhor perdeu sua luz e sua alma e seu espectro e sua vida e sua voz, mas seu amor materializou-se na forma dessa luz. Vermelha, como nosso sangue.
O espectro do Senhor do passado revelou uma luz mais forte que todas as luzes da vida. Uma luz que aquecia e inebriava.
- Como nunca ouvi ou vi tal luz?
- Nós a temíamos e por isso a mantivemos aprisionada em locais que só uma boa morte nos permite alcançar. Mas a hora chegou. Ajoelha-te, Rygan Brëiver. Ajoelha-te e aceita esta luz como tua nova luz.
O espetáculo de mudança do turquesa para o vermelho se assemelhava ao encontro de duas cachoeiras em sua plena força. Cachoeiras coloridas. Fontes com enorme vazão de luz e poder. Somente os olhos poderosos dos Senhores e Mestres suportariam aquela mudança transcendental inédita na história da Ilha.
- Levanta-te, Rygan Brëiver. Agora és o Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos.
Por todos os cantos. Em cada sombra. O cinza se espalhava na forma de uma nova palavra: medo. Havia medo nos olhos de cada um. O desequilíbrio entre as luzes. Até mesmo as 26419,83 almas gentis recolheram-se. A beleza já não era tão intensa. O amor inaudito entre um grande e sábio e uma pecadora sonhadora desequilibrou toda Ilha de Delírio. As pessoas começavam a se questionar a respeito da força do Mestre. “Talvez a solução para tal conflito esteja além da sabedoria dele.” Drímer espalhava sua luz, cada dia mais amarela e intensa, e sua delicadeza pelo povoado. Confortava famílias tristes. Sorria para os aflitos. Aconselhava na confiança no seu Mestre.
- O Mestre sabe o que faz.
Contudo, o tempo passava. Mais luzes se apagavam. Sobrava escuridão em cada lágrima de dor pelos habitantes desaparecidos. “Será o amor um ato inconseqüente com relação ao mundo ao redor? ” Casas e tarefas abandonadas. Os sóis nasciam tristes e cada vez mais tomados pelo cinza. Drímer gritava por dentro com saudade daquele que a despertou para o amarelo e o vermelho. Questionava-se, mas continuava sorrindo para o povo. “Solidão e tristeza nascem do amor?”
Quando as portas do Templo do Mestre se abriram, muitos se aglomeraram para observar o espetáculo de beleza da nova luz que desfilava. Drímer correu para os braços daquele que amava e confiava. O beijo nasceu do encontro de luzes jamais vistas. O vermelho dele. O amarelo dela. A natureza do sentimento dos seres vivos de Delírio revelada finalmente. Todos aplaudiram. A esperança nasceu nos corações. Com a salva de palmas, as luzes aumentaram em intensidade. O Mestre deu um passo forte. Estendeu o braço. Dedos unidos. Mãos espalmadas.
- Eu já fui apenas Rygan Brëiver. Eu já fui a luz turquesa, o Senhor e Mestre das Luzes do Nosso Povo. Agora, ao lado de Drímer, com nossas luzes unidas, anuncio que hoje é o dia de nossa libertação. Anuncio que o istoriquétier será aberto para todo o sempre. Anuncio que, como Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos, banirei a ameaça cinza de nossa Ilha para que a Era dos Sonhos, tão esperada e aguardada, tenha início!
Dias e mais dias. Luzes assustadas, mas esperançosas e confiantes. A luz vermelha do novo e mais poderoso dos Mestres foi em busca de cada cinza. Batalhas sangrentas travaram-se. Sangue. Fúria. Dentes. Garras. Vermelho.
- Afasta-te da Ilha de Delírio! Eu, o Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos, ordeno-te!
O lado selvagem e o desejo de vingança da besta a impediam de fugir. O ataque era sempre inevitável. Movimentos rápidos. Brilhos intensos que iluminavam largos trechos da floresta. Luz vermelha que cortava a carne cinza sem distinguir ou separar os dentes, a pele e as garras. Luz que se misturava com o sangue de mais um animal, desta vez não apenas ferido, mas abatido. Rygan Brëiver protegia seu povo. Eliminava os Barúns por todos os cantos da floresta.
Conquanto, o cinza só fazia aumentar. Mais luzes desapareciam. O Mestre decidiu então não mais partir em busca das feras, mas ficar no povoado para impedir novos motivos para que mais lágrimas fossem derramadas. Drímer via sua luz amarela aumentar em poder e força. Percebia também o cansaço de seu amado. E, durante um beijo intenso, entendeu que chegara a hora dela participar da batalha. Contudo, ele temia pela vida dela mais do que por sua própria e pediu para que ela permanecesse com os outros e os protegesse. Ela sorriu com afeto e derramou mais de seu brilho pelo povoado.
Mais dias. Mais batalhas. Mais Barúns mortos. O cinza continuava tomando conta da ilha. Nassingdei. O Mestre recuperou um jovem das garras de uma das bestas. Elas agora articulavam seus ataques. Ele se viu cercado por mais de três animais. Segurava o corpo do jovem ferido e se encontrava numa posição desprivilegiada para seus movimentos rápidos e para sua luz certeira. Mais bestas chegavam. Cinco. O cinza tomava conta do vermelho do Mestre e do azul fraco do jovem ferido. Onze. Numa explosão de vermelho intenso três animais foram golpeados. Vinte e três. Rygan estava cercado. Cinqüenta. Incontáveis Barúns com um só olho ao seu redor. Olho cheio de fúria cega. Dois braços para cima. Mãos espalmadas. Dedos Unidos. Ele usou todo seu poder, sabedoria, força e amor para produzir a maior explosão de luz da história de todas as eras de todos os povos. Várias bestas foram derrubadas, mortas. Dentes e garras espalhados. Sangue. Um espetáculo de destruição do manto cinza.
Porém, uma delas sobreviveu. Um Barún de tamanho descomunal, com dois olhos perfurados. Apontou sua fúria cega para o frágil portador da luz vermelha. O Mestre já não contava com toda sua força após a explosão que produzira.
- Podes destruir minhas criaturas, Luz Vermelha! Porém não podes acabar com o meu poder cinza!
- Eu te ordeno, Senhor dos Barúns! Abandona a Ilha de Delírio e leva contigo tuas criaturas que só causaram dor e sofrimento!
- Tu me deformaste! Tu e teu povo pecador pagarão! Não perdoarei ninguém! Não sobrarão luz e alma. Não sobrarão pecado e sentimento!
A gigantesca criatura, num golpe certeiro de luz cinza, abateu primeiro o jovem e, em seguida o Mestre. Os dois caíram com dores terríveis. O Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos sentiu que o golpe final se aproximava. “Minha morte está próxima.” Pensou em seu povo. Pensou em Drímer. Imaginou sonhar quando uma luz amarela intensa surgiu, produzindo um clarão explosivo.
Drímer derrubou o Senhor das Bestas com sua luz cheia do mais puro sentimento. No entanto, a fera levantou e, ao levantar, trouxe consigo dezenas de outros Barúns das profundezas de seu manto cinza. Com seu Mestre caído, ela olhou a sua volta em desespero. Lágrimas ainda mais amarelas deslizaram pelo seu rosto. Lágrimas que consistiam num verdadeiro clamor à vida. Um grito de liberdade. “Sentimentos e sonhos.” Reforçou o brilho de sua luz, pronta para morrer enfrentando todas as bestiais criaturas. Eis que surge o exercito gentil e belo das 26419,83 almas para seu auxílio, socorro e proteção.
A defesa apaixonada do Mestre deixara o Barún com apenas um olho, mas, ainda assim, cego. A fúria controlava a retina que escapara ilesa. Seu lado selvagem mostrava-se fora do controle. Vingança. O ódio que a besta sentia da luz tornava-a ainda mais perigosa. Então, as vítimas começaram a aparecer.
Partidei. As belas árvores amanheceram despedaçadas. A população de Delírio escandalizada, procurava uma explicação. Só Drímer e o próprio Mestre sabiam que o amor causara tamanho desastre.
Mais alguns dias passaram. O cinza aumentava. Não havia explicações, exceto nos sussurros proibidos. A escuridão crescia em vários pontos. Havia mais de uma só fonte de perigo. O Mestre estranhamente se recolheu para a mais longa meditação que o Templo dos Mestres presenciara. Ele pode ouvir as vozes dos Senhores do Passado. Alguns o condenavam.
- Tu rompeste com o juramento secreto de manter teu povo longe das dores e sofrimentos decorrentes do sentimento incontrolável!
- Tu desonraste teu templo e teu povo!
- Tu traíste a confiança depositada em ti pelas luzes!
Outros o questionavam com veemência.
- Aonde tu acreditas que tal sentimento conduzirá a ti e a teu povo?
- Não julgas que chegou a hora de escolhermos um novo mestre?
A resposta direta e firme dele, o atual Mestre e Senhor da Ilha de Delírio, silenciava e despertava a reflexão de seus antepassados.
- Eu sou o Senhor de Todas as Luzes, assim como Senhor de minha própria vida e de meus sentimentos. Não deixarei que nada destrua meu Povo. E, sim, o destino me permitiu amar. E, sim, amarei com a intensidade de minha luz. Sei que Vós me julgais por tal decisão. Porém, tal sentimento agrega mais vida e mais luzes para meu povo. Minhas forças e meu conhecimento alcançam hoje níveis que jamais poderão ser questionados por nenhum de Vós. Portanto, não sereis Vós, com a proteção da paz de um passado distante, que me convencereis dos benefícios de reprimir tal amor. O momento exige que as novas luzes sejam reveladas e apenas com tais luzes e com tais sentimentos a ameaça será para toda eternidade banida e a paz verdadeira - até hoje apenas sonhada - reinará em Delírio. Paz feita de luzes de amarelo e vermelho. De paixão e de amor. É assim que eu, o Mestre Desses Tempos de Cinza, agirei. Venho ao templo buscando conselhos sábios e auxílio generoso.
- Então... podeis Vós, Mestres e Senhores do Passado, oferecer-me o que busco? Estender-nos-eis a mão nesse momento que mistura o amor com as dificuldades?
O Mestre permanecia no Templo, quando a primeira luz se apagou. Um luz violeta se perdeu num dos pontos de cinzas que se espalhavam pela mata. Luz iluminada de criança inocente. Sempre distante e alheia aos confusos sonhos proibidos. Desconhecedora pueril dos três pecados. Lágrimas. A primeira grande perda. Dias passavam.
- O Barún furioso espalha o terror. Não posso mais esperar por vosso conselho. Hoje abandono o Templo, com ou sem a ajuda de Vós que sois meus antepassados, meus guias e meus mentores. Lamento não corresponder às expectativas de sentimentos contidos. Viro as costas tão decepcionado quanto vós. O Barún já não é só um. Várias são as feras de um só olho repleto de fúria cega, espalhando a morte pelas luzes de meu povo, de nosso povo. Minha luz turquesa não será suficiente nessa guerra.
Seus passos decididos. Suas mãos tocaram as portas. Lágrimas molharam suas vestes.
- Espera!
O mais antigo dos Mestres e Senhores materializou-se e tocou-o no ombro.
- Muitas são as eras que atravessamos. Muitas foram as dificuldades que enfrentamos. Porém, nunca O Povo das Luzes teve um Mestre tão sábio como tu, Rygan Brëiver. O teu amor por aquela jovem se estende a todo teu povo. Um amor incondicional. Um amor idealista e apaixonado que realmente não conhecemos e por isso tanto tememos. Ainda assim, muitas são nossas lendas. Muitas são as nossas verdades nunca ditas. E, num tempo passado em que o amor e a destruição também caminharam unidos, um Mestre e Senhor perdeu sua luz e sua alma e seu espectro e sua vida e sua voz, mas seu amor materializou-se na forma dessa luz. Vermelha, como nosso sangue.
O espectro do Senhor do passado revelou uma luz mais forte que todas as luzes da vida. Uma luz que aquecia e inebriava.
- Como nunca ouvi ou vi tal luz?
- Nós a temíamos e por isso a mantivemos aprisionada em locais que só uma boa morte nos permite alcançar. Mas a hora chegou. Ajoelha-te, Rygan Brëiver. Ajoelha-te e aceita esta luz como tua nova luz.
O espetáculo de mudança do turquesa para o vermelho se assemelhava ao encontro de duas cachoeiras em sua plena força. Cachoeiras coloridas. Fontes com enorme vazão de luz e poder. Somente os olhos poderosos dos Senhores e Mestres suportariam aquela mudança transcendental inédita na história da Ilha.
- Levanta-te, Rygan Brëiver. Agora és o Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos.
Por todos os cantos. Em cada sombra. O cinza se espalhava na forma de uma nova palavra: medo. Havia medo nos olhos de cada um. O desequilíbrio entre as luzes. Até mesmo as 26419,83 almas gentis recolheram-se. A beleza já não era tão intensa. O amor inaudito entre um grande e sábio e uma pecadora sonhadora desequilibrou toda Ilha de Delírio. As pessoas começavam a se questionar a respeito da força do Mestre. “Talvez a solução para tal conflito esteja além da sabedoria dele.” Drímer espalhava sua luz, cada dia mais amarela e intensa, e sua delicadeza pelo povoado. Confortava famílias tristes. Sorria para os aflitos. Aconselhava na confiança no seu Mestre.
- O Mestre sabe o que faz.
Contudo, o tempo passava. Mais luzes se apagavam. Sobrava escuridão em cada lágrima de dor pelos habitantes desaparecidos. “Será o amor um ato inconseqüente com relação ao mundo ao redor? ” Casas e tarefas abandonadas. Os sóis nasciam tristes e cada vez mais tomados pelo cinza. Drímer gritava por dentro com saudade daquele que a despertou para o amarelo e o vermelho. Questionava-se, mas continuava sorrindo para o povo. “Solidão e tristeza nascem do amor?”
Quando as portas do Templo do Mestre se abriram, muitos se aglomeraram para observar o espetáculo de beleza da nova luz que desfilava. Drímer correu para os braços daquele que amava e confiava. O beijo nasceu do encontro de luzes jamais vistas. O vermelho dele. O amarelo dela. A natureza do sentimento dos seres vivos de Delírio revelada finalmente. Todos aplaudiram. A esperança nasceu nos corações. Com a salva de palmas, as luzes aumentaram em intensidade. O Mestre deu um passo forte. Estendeu o braço. Dedos unidos. Mãos espalmadas.
- Eu já fui apenas Rygan Brëiver. Eu já fui a luz turquesa, o Senhor e Mestre das Luzes do Nosso Povo. Agora, ao lado de Drímer, com nossas luzes unidas, anuncio que hoje é o dia de nossa libertação. Anuncio que o istoriquétier será aberto para todo o sempre. Anuncio que, como Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos, banirei a ameaça cinza de nossa Ilha para que a Era dos Sonhos, tão esperada e aguardada, tenha início!
Dias e mais dias. Luzes assustadas, mas esperançosas e confiantes. A luz vermelha do novo e mais poderoso dos Mestres foi em busca de cada cinza. Batalhas sangrentas travaram-se. Sangue. Fúria. Dentes. Garras. Vermelho.
- Afasta-te da Ilha de Delírio! Eu, o Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos, ordeno-te!
O lado selvagem e o desejo de vingança da besta a impediam de fugir. O ataque era sempre inevitável. Movimentos rápidos. Brilhos intensos que iluminavam largos trechos da floresta. Luz vermelha que cortava a carne cinza sem distinguir ou separar os dentes, a pele e as garras. Luz que se misturava com o sangue de mais um animal, desta vez não apenas ferido, mas abatido. Rygan Brëiver protegia seu povo. Eliminava os Barúns por todos os cantos da floresta.
Conquanto, o cinza só fazia aumentar. Mais luzes desapareciam. O Mestre decidiu então não mais partir em busca das feras, mas ficar no povoado para impedir novos motivos para que mais lágrimas fossem derramadas. Drímer via sua luz amarela aumentar em poder e força. Percebia também o cansaço de seu amado. E, durante um beijo intenso, entendeu que chegara a hora dela participar da batalha. Contudo, ele temia pela vida dela mais do que por sua própria e pediu para que ela permanecesse com os outros e os protegesse. Ela sorriu com afeto e derramou mais de seu brilho pelo povoado.
Mais dias. Mais batalhas. Mais Barúns mortos. O cinza continuava tomando conta da ilha. Nassingdei. O Mestre recuperou um jovem das garras de uma das bestas. Elas agora articulavam seus ataques. Ele se viu cercado por mais de três animais. Segurava o corpo do jovem ferido e se encontrava numa posição desprivilegiada para seus movimentos rápidos e para sua luz certeira. Mais bestas chegavam. Cinco. O cinza tomava conta do vermelho do Mestre e do azul fraco do jovem ferido. Onze. Numa explosão de vermelho intenso três animais foram golpeados. Vinte e três. Rygan estava cercado. Cinqüenta. Incontáveis Barúns com um só olho ao seu redor. Olho cheio de fúria cega. Dois braços para cima. Mãos espalmadas. Dedos Unidos. Ele usou todo seu poder, sabedoria, força e amor para produzir a maior explosão de luz da história de todas as eras de todos os povos. Várias bestas foram derrubadas, mortas. Dentes e garras espalhados. Sangue. Um espetáculo de destruição do manto cinza.
Porém, uma delas sobreviveu. Um Barún de tamanho descomunal, com dois olhos perfurados. Apontou sua fúria cega para o frágil portador da luz vermelha. O Mestre já não contava com toda sua força após a explosão que produzira.
- Podes destruir minhas criaturas, Luz Vermelha! Porém não podes acabar com o meu poder cinza!
- Eu te ordeno, Senhor dos Barúns! Abandona a Ilha de Delírio e leva contigo tuas criaturas que só causaram dor e sofrimento!
- Tu me deformaste! Tu e teu povo pecador pagarão! Não perdoarei ninguém! Não sobrarão luz e alma. Não sobrarão pecado e sentimento!
A gigantesca criatura, num golpe certeiro de luz cinza, abateu primeiro o jovem e, em seguida o Mestre. Os dois caíram com dores terríveis. O Senhor e Mestre Supremo das Luzes dos Sonhos Proibidos sentiu que o golpe final se aproximava. “Minha morte está próxima.” Pensou em seu povo. Pensou em Drímer. Imaginou sonhar quando uma luz amarela intensa surgiu, produzindo um clarão explosivo.
Drímer derrubou o Senhor das Bestas com sua luz cheia do mais puro sentimento. No entanto, a fera levantou e, ao levantar, trouxe consigo dezenas de outros Barúns das profundezas de seu manto cinza. Com seu Mestre caído, ela olhou a sua volta em desespero. Lágrimas ainda mais amarelas deslizaram pelo seu rosto. Lágrimas que consistiam num verdadeiro clamor à vida. Um grito de liberdade. “Sentimentos e sonhos.” Reforçou o brilho de sua luz, pronta para morrer enfrentando todas as bestiais criaturas. Eis que surge o exercito gentil e belo das 26419,83 almas para seu auxílio, socorro e proteção.
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