Protect me from what I want...
Quem nunca teve desejos estranhos?
Perversos talvez? Não necessariamente pervertidos. Pensamentos malígnos, esquisitos que depois de segundos você pensa…"Credo! Como eu fui pensar uma coisa dessas?"
Eu tive uma aula de criação de personagens em Los Angeles com um doido...A confusão já começou porque nos deram uma sala para 20 pessoas e mais de 50 procuraram o seminário dele. Saímos do primeiro andar do Marriott para uma suíte no 18º. Todos esperando demais da aula do Tom Schlesinger, e todos já um pouco irritados.
Ele é escritor, consultor de roteiros da Miramax, da Zoetrop e vive hoje na Alemanha e trabalha de lá mesmo para Hollywood. E é maluco. (Eu já disse isso?)
Foi muito interessante ver a reação das pessoas ao se sentirem profundamente incomodadas pelo que ele dizia e nos mandava fazer. Muita gente começou a fechar os cadernos, guardar as coisas e sair da sala. Meu amigo Paul também tentou sair, mas como eu sou péssima companheira, não permiti. Coloquei a minha perna no caminho dele e falei como se fala com um cachorrinho: STAY! Ele ficou. Sei lá porque...alguns homens simplesmente precisam ser mandados. hahaha!
Mas o que era essa coisa tão incômoda que praticamente auto-baniu as pessoas do seminário? Era a loucura de cada um.
Tom pediu que prestássemos atenção às vozes dentro de nossas cabeças. Ele afirmou: "eu sei que você ensaia o seu discurso do Oscar. Eu sei que você dá entrevistas para a CNN. Eu sei que você fala com a sua ex-namorada no banheiro".
Todos nós temos vozes falando por nós e conosco no trânsito, em casa, no banco, na caminhada, na ginástica. Todos...sem excessão (nem vem me dizer que você não fala com eles). Pois Tom sugeriu que déssemos nomes a essa vozes. E depois do nome, um par de sapatos. Que tipo de sapato essa moça que se despede triste em seu leito de morte usaria? O que ela gostava de vestir antes de ficar doente? Ela tem um relógio? Quem deu o relógio para ela? O que ela gosta de fazer quando está em casa? Ela tem um amor? Quem é ele?
As pessoas começaram a sair e o Tom perguntou: Não é incômodo? hahah! Nossa, é muito incômodo! Pois na hora que essa sensação terrível começar -- ele disse -- tente resistir. Não se censure. Fale mais com as suas vozes e tente descobrir até onde elas podem ir. Não tenha medo de olhar nos olhos dessa pessoa, mesmo que ela seja um psicopata. Ouça o que ela tem para dizer. Agora ela tem um nome, fica mais fácil descobrir quem ela é.
Assim, o Tom nos ensinou a ter um arquivo precioso de personagens que na verdade vivem dentro de nós. Mas muitas das pessoas se recusaram a aceitar que ouvem essas vozes. Por que? Medo! Medo de se descobrir politicamente incorretas. Medo de saber que quer coisas que não são certas. Medo de querer realmente. Medo de se mostrar. Medo de se encarar.
Eu vou confessar que fiquei aliviada. Sempre achei que eu fosse a única esquizofrênica que eu conhecia. (ok...única fora o meu marido, os meus dois filhos, o Felipe Iubel e mais alguns). Ha! Entreguei o Felipe! Mas ele é um escritor. Não existem escritores normais. Só os que fingem ser normais. Então...fiquei aliviada demais por saber que eu não sou tão louca quanto imaginava e, melhor ainda, posso tirar proveito da minha insanidade. É lógico que todos os meus personagens sou eu. Claro. Por piores que eles sejam, ou eles estão dizendo algo que eu pensei, ou algo que eu queria ouvir (ou vocês achavam que o George era um amor assim, do nada? Que a Mélia era genial porque eu tive dois minutos de inspiração?) Até uma semana atrás isso acontecia instintivamente, mas sempre que alguém perguntava o que as minhas histórias tinham de auto-biográficas eu ficava sem jeito.
Oras...é óbvio que eu não encontrei o George Clooney na Patagônia. Mas se foi a minha cabecinha doente que fez com que a Lívia o encontrasse, hello?? É ou não é auto-biográfico?
- Não porque eu não gosto do George Clooney.
- Tá. Mas então conta pra eles que você tinha pensado e fazer a Lívia encontrar o Brad Pitt.
- Pensei, mas não teria graça...ninguém rejeitaria o Brad Pitt. O George eu dispensava. Ficava mais facil ficar fazendo pouco dele.
- Então...você queria encontrar o Brad Pitt numa viagem sozinha pra algum lugar.
- Tá louco? Encontrar o Brad Pitt e fazer o que? Vestir um escafandro? Você acha que eu teria coragem de tirar a roupa na frente do Brad Pitt? Eu sou uma senhora, pelo amor de Deus! Ele é casado com a Angelina Jolie!!!
(Desculpa. São os meus inner diálogos se passando.)
Então...creio que a palavra certa seria: "auto-biografia-do-inconsciênte".
Mas se formos pensar assim, quem foi Mary Shelley? Uma louca que queria criar um homem feito de partes de defuntos para servi-la? Necrófila, doida! Um perigo para a sociedade. E o Stephen King? Que pavor! E tantos outros loucos capazes de criar personagens terríveis como Hanibal Lekter? Todos loucos psicopatas esquizofrênicos?
Não...todos humanos. Somos todos meio malucos sem a consciência da maluquisse.
Todos nós já pensamos alguma vez na vida em algo realmente horrível, mas corremos para nos esconder em alguma canção de ninar para nos proteger de nós mesmos. E não é que se queira realmente aquela coisa horrível, ela só é humana e nos ronda. Todos nós somos capazes de criar um psicopata, porque ele mora perto de nós. Todos nós somos capazes de criar um personagem grandioso, bom, maravilhoso, porque ele também é vizinho. Isso não faz de nós pessoas horríveis. Passamos a vida aprendendo a ser éticos, que é uma forma de nunca liberar esses pensamentos maus.
Mas seria muita limitação achar que nosso cérebro é só o que conhecemos dele. Pensa dois segundos: de onde vem a nossa capacidade de adaptação senão do conhecimento inconsciente de TODAS as situações possíveis?
Existem milhares de coisas que a gente pensa e não sabia que pensava. Assim são os personagens. Assim são as minhas especulações. E eu estou feliz por saber que posso fazer disso uma técnica. Olha que lindo! Agora eu sou normal!
Well...andei, andei e não fui muito longe. Cheguei só onde eu já passei algumas vezes: mais de uma vez eu disse no TPM que a insanidade é o caminho mais cômodo. Você pode dar uma passinho para o lado e seguir por ela, por que ela também mora bem mais perto do que imaginamos. Ou pode usá-la para melhorar como pessoa. (Ou como escritor).
Por enquanto vou ficar com a segunda hipótese.
Bom dia, meus amores.
(cuidado com as vozes)
P.S. No final do seminário, meu amigo Paul me agradeceu por tê-lo feito ficar.
Perversos talvez? Não necessariamente pervertidos. Pensamentos malígnos, esquisitos que depois de segundos você pensa…"Credo! Como eu fui pensar uma coisa dessas?"
Eu tive uma aula de criação de personagens em Los Angeles com um doido...A confusão já começou porque nos deram uma sala para 20 pessoas e mais de 50 procuraram o seminário dele. Saímos do primeiro andar do Marriott para uma suíte no 18º. Todos esperando demais da aula do Tom Schlesinger, e todos já um pouco irritados.
Ele é escritor, consultor de roteiros da Miramax, da Zoetrop e vive hoje na Alemanha e trabalha de lá mesmo para Hollywood. E é maluco. (Eu já disse isso?)
Foi muito interessante ver a reação das pessoas ao se sentirem profundamente incomodadas pelo que ele dizia e nos mandava fazer. Muita gente começou a fechar os cadernos, guardar as coisas e sair da sala. Meu amigo Paul também tentou sair, mas como eu sou péssima companheira, não permiti. Coloquei a minha perna no caminho dele e falei como se fala com um cachorrinho: STAY! Ele ficou. Sei lá porque...alguns homens simplesmente precisam ser mandados. hahaha!
Mas o que era essa coisa tão incômoda que praticamente auto-baniu as pessoas do seminário? Era a loucura de cada um.
Tom pediu que prestássemos atenção às vozes dentro de nossas cabeças. Ele afirmou: "eu sei que você ensaia o seu discurso do Oscar. Eu sei que você dá entrevistas para a CNN. Eu sei que você fala com a sua ex-namorada no banheiro".
Todos nós temos vozes falando por nós e conosco no trânsito, em casa, no banco, na caminhada, na ginástica. Todos...sem excessão (nem vem me dizer que você não fala com eles). Pois Tom sugeriu que déssemos nomes a essa vozes. E depois do nome, um par de sapatos. Que tipo de sapato essa moça que se despede triste em seu leito de morte usaria? O que ela gostava de vestir antes de ficar doente? Ela tem um relógio? Quem deu o relógio para ela? O que ela gosta de fazer quando está em casa? Ela tem um amor? Quem é ele?
As pessoas começaram a sair e o Tom perguntou: Não é incômodo? hahah! Nossa, é muito incômodo! Pois na hora que essa sensação terrível começar -- ele disse -- tente resistir. Não se censure. Fale mais com as suas vozes e tente descobrir até onde elas podem ir. Não tenha medo de olhar nos olhos dessa pessoa, mesmo que ela seja um psicopata. Ouça o que ela tem para dizer. Agora ela tem um nome, fica mais fácil descobrir quem ela é.
Assim, o Tom nos ensinou a ter um arquivo precioso de personagens que na verdade vivem dentro de nós. Mas muitas das pessoas se recusaram a aceitar que ouvem essas vozes. Por que? Medo! Medo de se descobrir politicamente incorretas. Medo de saber que quer coisas que não são certas. Medo de querer realmente. Medo de se mostrar. Medo de se encarar.
Eu vou confessar que fiquei aliviada. Sempre achei que eu fosse a única esquizofrênica que eu conhecia. (ok...única fora o meu marido, os meus dois filhos, o Felipe Iubel e mais alguns). Ha! Entreguei o Felipe! Mas ele é um escritor. Não existem escritores normais. Só os que fingem ser normais. Então...fiquei aliviada demais por saber que eu não sou tão louca quanto imaginava e, melhor ainda, posso tirar proveito da minha insanidade. É lógico que todos os meus personagens sou eu. Claro. Por piores que eles sejam, ou eles estão dizendo algo que eu pensei, ou algo que eu queria ouvir (ou vocês achavam que o George era um amor assim, do nada? Que a Mélia era genial porque eu tive dois minutos de inspiração?) Até uma semana atrás isso acontecia instintivamente, mas sempre que alguém perguntava o que as minhas histórias tinham de auto-biográficas eu ficava sem jeito.
Oras...é óbvio que eu não encontrei o George Clooney na Patagônia. Mas se foi a minha cabecinha doente que fez com que a Lívia o encontrasse, hello?? É ou não é auto-biográfico?
- Não porque eu não gosto do George Clooney.
- Tá. Mas então conta pra eles que você tinha pensado e fazer a Lívia encontrar o Brad Pitt.
- Pensei, mas não teria graça...ninguém rejeitaria o Brad Pitt. O George eu dispensava. Ficava mais facil ficar fazendo pouco dele.
- Então...você queria encontrar o Brad Pitt numa viagem sozinha pra algum lugar.
- Tá louco? Encontrar o Brad Pitt e fazer o que? Vestir um escafandro? Você acha que eu teria coragem de tirar a roupa na frente do Brad Pitt? Eu sou uma senhora, pelo amor de Deus! Ele é casado com a Angelina Jolie!!!
(Desculpa. São os meus inner diálogos se passando.)
Então...creio que a palavra certa seria: "auto-biografia-do-inconsciênte".
Mas se formos pensar assim, quem foi Mary Shelley? Uma louca que queria criar um homem feito de partes de defuntos para servi-la? Necrófila, doida! Um perigo para a sociedade. E o Stephen King? Que pavor! E tantos outros loucos capazes de criar personagens terríveis como Hanibal Lekter? Todos loucos psicopatas esquizofrênicos?
Não...todos humanos. Somos todos meio malucos sem a consciência da maluquisse.
Todos nós já pensamos alguma vez na vida em algo realmente horrível, mas corremos para nos esconder em alguma canção de ninar para nos proteger de nós mesmos. E não é que se queira realmente aquela coisa horrível, ela só é humana e nos ronda. Todos nós somos capazes de criar um psicopata, porque ele mora perto de nós. Todos nós somos capazes de criar um personagem grandioso, bom, maravilhoso, porque ele também é vizinho. Isso não faz de nós pessoas horríveis. Passamos a vida aprendendo a ser éticos, que é uma forma de nunca liberar esses pensamentos maus.
Mas seria muita limitação achar que nosso cérebro é só o que conhecemos dele. Pensa dois segundos: de onde vem a nossa capacidade de adaptação senão do conhecimento inconsciente de TODAS as situações possíveis?
Existem milhares de coisas que a gente pensa e não sabia que pensava. Assim são os personagens. Assim são as minhas especulações. E eu estou feliz por saber que posso fazer disso uma técnica. Olha que lindo! Agora eu sou normal!
Well...andei, andei e não fui muito longe. Cheguei só onde eu já passei algumas vezes: mais de uma vez eu disse no TPM que a insanidade é o caminho mais cômodo. Você pode dar uma passinho para o lado e seguir por ela, por que ela também mora bem mais perto do que imaginamos. Ou pode usá-la para melhorar como pessoa. (Ou como escritor).
Por enquanto vou ficar com a segunda hipótese.
Bom dia, meus amores.
(cuidado com as vozes)
P.S. No final do seminário, meu amigo Paul me agradeceu por tê-lo feito ficar.
15 Comentários:
UAU!
Blog recomendado, aceito e aprovado.
Seus textos farão parte da minha leitura matinal.
Vc escreve com tanta franqueza, coragem e criatividade.
Obtém as respostas às dúvidas mais íntimas, que todos nós possuímos.
Parabéns!
Incrível
O blog devería chamar "caixinha de surpresas".
Textos escritos com coerência, clareza, inteligência e equilíbrio.
Vc tem o talento, competência e a força para prosseguir escrevendo e reescrevendo muitas histórias.
Lançado o convite - inegável recusálo.
Farei parte desta caixinha todos os dias.
Prendeu a minha atenção e instigou a minha curiosidade para os próximos textos...
Louca ou Normal?!?!
Ambos!!!
Vc tem algum parentesco com Antoine de Saint-Exupéry?
Everithyng you write is great!
Congratulations!
Bem, Fastolf tem até um blog!
hahahahhahahahaa
E quem disse, que eu sou maluco? hein? hein?
- Ela disse que eu sou maluco, Fastolf
- Calma, calma, você é normal!
- Tem certeza?
- Tem!
- Tem?!?!?!?!
- Tenho... Eu tenho, você tem.
- Ah bom, ufa.
- É!
E lembre-se sempre:
"The sweet ain't as sweet without the sour"
Beijo
Meus Deus!
De onde veio toda essa gente exagerada?
Hahahha!
eu sei de onde: da indicação de uma outra exagerada.
Welcome to my little world.
Puxem uma cadeira e fiquem a vontade.
Só não vale por o pé na mesa!
Beijocas
Hahahahahahahaha
Ótemo!
Ok! Somos todos meio malucos. Concordo. Converso com as vozes "inside my head" all day long... rs rs rs rs rs rs
Mas todas elas já tem nomes...
Acho que não consigo criar personagens... (vou tentar... hahahaha)
Anyway, vc é muito melhor nisso!!!!
So tell us your best stories!!!
Bjucasssssss
Vixxxx Mê,
Acho que vc tem uma grana gorda pra receber de todas as edições do Pequeno Príncipe!!!
hahahahahahahaha
Eu escuto minhas vozes...voce escuta minhas vozes.hahahahahahahahaha
Elas saem sem pedir permissão.São amis fortes que eu.
Beijooooo
Tudo bem. Não vou por o pé na mesa.
Mas posso fumar um charuto e desfrutar de um legítimo Malte Escocês?
You've got a heugh world!
It's intense, shining, creative, full of surprises and very, very curious...
Anonimo,
Se você assinar seus comentários, pode.
OK.
Anônimo Beto, muito prazer!
E obrigada por me deixar desfrutar de meus prazeres, ainda que não possa colocar o pé na mesa.
Nao conte pra ninguem Mê. Mas eu falo sozinha o dia todo. Tenho conversas profundíssimas com meu(s) outro(s) lado(s), mas é melhor ninguém ouvir...
E SIM eu faço shows no meio da minha sala! E dedico musicas pra pessoas que eu gosto!
Pronto! Ufa!
Caráculis, absurdamente esplendivilhoso!
Esse eu ainda não tinha lido.
(É eu tava dando uma fuçadinha. Sorry!)
Você é minha louca preferida.
Adorei a parte das vozes que todo mundo ouve e insiste em ignorá-las como se não existissem.
beijos
Ps.: Que seus neurônios, dedinhos e suas "vozes" nunca nos deixe órfãos.
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